26 outubro 2006

APRENDENDO A DIZER NÃO

© Dr. Alessandro Loiola


Tenho inúmeros pacientes cuja pressão elevada, insônia, distúrbio da ansiedade, depressão, compulsão alimentar ou obesidade foram causados pela incapacidade de dizerem NÃO. Eles saem pela rua colocando sobre as costas toda e qualquer carga de responsabilidade que encontram pela frente. No final do dia, estão piores que o último bagaço de laranja do Ceasa, e ainda recebem críticas porque estão deixando o serviço atrasar...

Dizer NÃO é essencial, mas o problema é que não recebemos treinamento específico para isso. As empresas, as universidades, os cursos pré-nupciais, em toda parte onde se ensina a fazer alguma coisa, ninguém ensina como NÃO fazer. Contudo, existem ocasiões em que você simplesmente já tem tarefas demais, e ser capaz de dizer NÃO pode ser a única forma de manter a sanidade física e mental.

Se você vive reclamando de desgaste e sobrecarga de trabalho, e só agora percebeu que é mais uma vítima dos que não sabem dizer NÃO, recomendo o seguinte: faça uma lista das situações em que você gostaria de dizer NÃO, mas não foi capaz de abandonar o SIM. E escolha uma desculpa de acordo com sua personalidade a partir da lista abaixo:

O EXECUTIVO

Ele diz NÃO escapando pelo excesso de coisas por fazer: “O problema é que estou envolvido em outros projetos até 2096...” ou então “No momento (leia-se: até o dia em que você parar de pedir) não acredito que seja possível encaixar mais nada na agenda...”. Alguns ainda fecham com chave de ouro, tirando da pasta todo seu grau de excelência, dizendo “E além de tudo, tenho que manter aquela qualidade que você já conhece.”

O RELAÇÕES-PÚBLICAS

De repente o sujeito é seu amigo, mas ainda assim... “Rapaz, prefiro recusar agora a fazer um serviço ruim e lhe prejudicar”. Ou “Até gostaria, o problema é que estou atolado em outro trabalho, sem tempo para nada”. Porém, um verdadeiro Relações-Públicas sempre dará um jeito de emendar a recusa com algo como: “mas posso indicar alguém para ajudar se você quiser”. E lhe encaminhará para um Executivo. Ou um Pobre-Coitado.

O POBRE-COITADO

Balance a cabeça de modo tristonho enquanto repete “Olha, infelizmente não me acho a pessoa mais indicada para esse serviço”, “Não tenho muita experiência no assunto” ou “Não é o meu forte”. Mas atenção: evite emendar as 3 desculpas em uma mesma frase. Não gaste de uma vez todos os seus trunfos! Dê respostas diferentes para cada vez que o outro insistir.

Se preferir, recuse fazendo uma massagem estilo drenagem linfática no Ego do outro (“Tenho certeza de que você é capaz de fazer isso pelo menos 10.000 vezes melhor do que eu!”) ou chore um lamento hipocondríaco tipo “O médico recomendou que reservasse um tempo livre para cuidar da saúde, dedicar à família, descobrir meu verdadeiro eu, sabe como é...”.

Até eu fiquei com pena.

O PRÁTICO

Algumas vezes, um simples e curto “NÃO” é suficiente. Os especialistas em Recursos Humanos recomendam que você faça isso de modo claro, firme porém cortês, deixando todas as portas abertas para um bom relacionamento no futuro. Depois, monte um curso bem caro para contar como foi que você conseguiu um milagre desses.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

8 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto, não poderia vir em hora mais propícia.
Agora o Sr. falta escrever um artigo sobre "como aprender a ouvir um não", coisa um pouco mais difícil, creio eu.
Esse texto veio a calhar realmente, aprender a dizer não está intimamente ligado a aprender ouvir um não.
O ser humano realmente é surpreendente. Às vezes não entendemos o motivo de alguns comportamentos, nos lamentamos achando que a culpa pra certos tipos de atitudes alheias são reflexo do que fizemos ou deixamos de fazer, mas tudo o que precisamos é ler um texto como esse.
Espero que quando o Sr. chegar ao final dos conteúdos monte um outro artigo nos contando como conseguiu esse bendito milagre... rs.
Obrigada pela dica do artigo de hoje!
Abraços

Anônimo disse...

Dr. Alessandro,
escrevolhe para corroborar com sua tese.
Já faz um bom tempo que descobri que não sei dizer NÃO. Ocorre que saber disso e ler seu "texto" não foram suficientes para "aprender a dizê-lo".
Superar essa "dificuldade" significa voltar à nossa essência. Acredito que a raiz do meu caso esteja ligada a "coragem" (falta de coragem). Infância reprimida/ criança oprimida??
Ajude-me Dr.
Atenciosamente, bellaadormecida.

Anônimo disse...

Oi Sandro!
Achei muito interessante o seu artigo. Há alguns anos aprendi a dizer não, e não!
E o melhor,sem culpa!!!!
Um beijo e saudades.....

Anônimo disse...

Adorei seu texto, eu me sobrecarrego mas nao sou concordadora compulsiva típica... mas terminei com meu namorado porque ele era. Detalhe, conforme nossa relacao progredia e ele ia me amando mais, ele começou a conseguir dizer "nao" pra mim, só pra mim. Ele me tinha em tão alta estima, que ele fazia a mim o que ele fazia a si mesmo... :0)
quer dizer, ele dizia "não" pra ele proprio e pra mim, e dizia "sim" pra Deus e o mundo, clientes, pedintes, filho, ex-esposa, pai, mãe, irmã carente, irmã mais velha, dentista, cunhados, sobrinhos e principalmente, malas-sem-alça, do tipo candidatos políticos, tudo...
mandei seu texto pra ele... espero que ele consiga usar algumas das frases geniais que voce mostra no texto! obrigada
um abraço!
Paulistana

Anônimo disse...

Sempre usei o não na hora certa e precisa.
Sem neuras.
Abraços.

Anônimo disse...

Sempre usei o não na hora certa e precisa.
Sem neuras.
Abraços.

Anônimo disse...

Estou passando por uma situação muito chata. Mudei de cidade. Na hora de procurar meu canto, hospedei-me em casa de uma amiga que sempre propalou as incoveniências da sogra. Bem, depois de instalada, a tal sogra, também mudou de cidade e veio morar no meu prédio. Como é um pouco idosa, ajudei-a, até por agradecimento ao marido da minha amiga, muito gentil comigo. Pra quê... Perdi minha privacidade, meu sossêgo. Já tentei de tudo para me livrar do grude. Todas as maneiras educadas, já usei. Agora estou na fase do falar claro, já pedi, inclusive, para ela ficar na casa dela e eu na minha. Disse que preso minha privacidade etc. mas, ela, diariamente, me interfona ou toca a campainha perguntando o quê foi que ela fêz!!!
Pior que dizer o NÃO, é fazer com que ele seja entendido!
Alguma ajuda? Opinião?

Unknown disse...

Dr. Alessandro, achei muito interessante o texto, porem ainda nao sei dizer NAO, com firmeza. Tenho me esforcado muito, a vida tem me encinado que mesmo nao conseguindo, tenho que me esforcar pq eh necessario para minha sobrevivencia nessa selva de pedra. Tenho certeza que eu chego la. Em vista do que era estou bem melhor... Abraco.