08 abril 2016

O que você pediria ao gênio da lâmpada?

© Alessandro Loiola





Em um desses lampejos toscos que temos no chuveiro à noite ou enquanto esvaziamos o conteúdo de nossos intestinos pela manhã - independente do horário ou da atividade, o banheiro sem dúvida é um dos lugares mais criativos da casa! -, fui atingido por uma epifania.

E se, e se!, um gênio aparecesse e lhe concedesse um desejo? Um desejo apenas, um único e miserável desejo.

Considere a possibilidade de ser um gênio em pleno ataque de enxaqueca, ou com TPM, ou numa crise de agorafobia depois de tantos milênios dentro da maldita lâmpada. Ele não está de bom humor. Nada de 3 desejos. Um só. "E não venha pedir mais desejos que eu lhe transformo num ornitorrinco!", ele vai avisando enquanto a fumaça se dissipa.

O que você pediria? Curioso com as possibilidades, reproduzi essa pergunta para algumas dúzias de amigos via whats. "Saúde para meus filhos", "Saúde para mim", "Saúde para meus pais", "Saúde para minha família"... De cara, Saúde disparou como campeã de audiência. Mas também vieram "Viver eternamente" (não seria uma variável de "saúde"?), "Ter muito dinheiro", "Ser feliz", "Viver em paz", etc.

Gostaria de ver a reprodução dessa pergunta em outras culturas. Na ausência dessas evidências, fico com as minhas, atuais e tupiniquins. De cara, é possível perceber uma coisa: o Cunhadismo que herdamos dos índios e dos primeiros colonizadores permanece entranhado em nossos genes. Poderia ter também algo a ver com o instinto de sobrevivência, inato em qualquer ser vivo, mas o rabugento que sobrevive em mim iniste em jogar a culpa no Cunhadismo.

Podendo ter um desejo realizado, qualquer que seja ele, as pessoas restringem suas opções ao seu círculo de confiança. Farinha pouca, meu pirão primeiro. E nada de aparecer um pseudo-altruísta preocupado em resolver a fome, as doenças, as guerras, a violência gratuita, a injustiça descarada. Não, nada disso. Tudo que as pessoas querem é uma sombra fresca e verdejante onde possam pendurar suas redes plácidas pelo tempo de suas existências.

Do ponto de vista do meu umbigo egocêntrico, enxergo que a causa maior do sofrimento da humanidade é a Ignorância - e, por ignorância, seguimos causando nosso próprio sofrimento e o sofrimento de outrens. Por isso, se eu encontrasse o desgraçado do gênio, pediria a ele a extinção absoluta de TODA ignorância.

E tenho certeza de que o mundo se acertaria bem, muito bem, a partir daí. Mesmo você e sua família não vivendo eternamente.

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