23 julho 2007

ALÔ PÉCIA

© Dr. Alessandro Loiola



- É só alopécia – eu disse casualmente.
O sujeito havia marcado uma consulta depois de uma brincadeira de seu filho de 5 anos de idade, que disse: “Papai! Papai! Descobri um pedaço do seu cabelo que só tem pele !”. E daí ele correu para o médico.
- Como é doutor?
- Alopécia. Essa área que está ficando sem cabelo é só Alopécia. Ou Calvície, se quiser um termo mais comum.
Senti que havia sido quase como dizer que ele estava com câncer.
- Calvície!? Brinca não, doutor. Calvície?? E eu ainda tão novo... ai ai ai....

Conversamos um pouco mais, passei as orientações necessárias e ele saiu pela rua se escondendo debaixo de um boné escrito “Hug me! I’m your Teddy Bear!”. Quer dizer, entrar na fila do banco se achando um ursinho de pelúcia pronto para ser abraçado, sem problemas. Tirar o boné e mostrar a alopécia para uma desconhecida, nem pensar!
Fiquei me perguntando - eu próprio um calvo muito convicto e orgulhoso da minha área de desmatamento em progresso no couro cabeludo – por que diabos alguém pode dar tanta importância a um topete rarefeito.

Ainda assim, o mercado capilar movimenta números impressionantes: apenas nos EUA, mais de 15.000 transplantes são realizados a cada ano e a soma dos investimentos nestas plantações (ou implantações, como queira) de folículos pilosos supera os 50 milhões de dólares. Isso para não mencionar o mercado também milionário das drogas que prometem fazer o cabelo crescer, sprays milagrosos e as famigeradas perucas – agora alçadas à nobre condição de Próteses.

Mais de 60% dos pacientes que procuram tratamento para Alopécia são homens entre os 30 e 50 anos de idade. Existem aqueles que o fazem por motivos de saúde, mas a imensa maioria está preocupada apenas com a vaidade mesmo.

A verdade é: homens e mulheres perdem cerca de 100 fios de cabelo por dia e o processo se acentua com o envelhecimento. A maioria dos homens apresenta algum grau de calvície por volta dos 60 anos de idade. Isto é normal, sendo que algumas pessoas são mais afetadas que outras – principalmente quando há uma prevalência de calvície na família.

A perda súbita ou excessiva de cabelo também pode resultar do uso de certos medicamentos, dietas muito severas, alterações hormonais, fivelas, rabos de cavalo muito apertados ou utilizados por muito tempo, infecção por fungos e outras doenças. Entretanto, Cerca de 95% dos casos de Alopécia decorrem de um distúrbio hereditário chamado Alopécia Androgenética.

A Alopécia Androgenética está diretamente ligada à produção de uma substância, a diidrotestosterona (ou DHT), que danifica os folículos pilosos. Acontece da seguinte maneira: ao circular pela corrente sanguínea, a testosterona que todos produzimos (homens e mulheres) é convertida em DHT por uma enzima muito específica, chamada 5-alfa redutase. Quanto maior a atividade desta enzima, mais DHT se ligará aos receptores nos folículos pilosos, levando a cabelos cada vez mais finos. Com a evolução do processo, o folículo atrofia e termina desaparecendo – levando consigo os preciosos fios de cabelo.

A Alopécia sempre gerou muitos mitos, mas é bom que você fique sabendo que:

· Chapéus e bonés não causam calvície.

· Plantar bananeira não aumentará o fluxo de sangue para o couro cabeludo, combatendo a queda de cabelo.

· Massagens vigorosas no couro cabeludo ou limpar excessivamente a cabeça (para “desobstruir os folículos) também não irão lhe salvar.

· Esqueça fórmulas mirabolantes e ingredientes super-secretos capazes de evitar a queda de cabelo que aparecem em comerciais durante a madrugada.
O dia em que uma técnica ou substância 100% eficaz contra a calvície surgir no mercado, você não precisará de um “especialista” na TV ou de um encarte em uma revista de cosméticos para lhe dizer o nome desse medicamento: ele simplesmente estará na capa dos principais jornais do mundo todo.

Em todos os casos, não esquente a cabeça pensando na Alopécia. Mantenha a cuca fresca, sempre. Afinal, quem você realmente é não está sobre seu couro cabeludo, mas logo abaixo dele.

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Dr. Alessandro Loiola é médico, escritor e palestrante, autor dos livros “Vida e Saúde da Criança” e “Crianças em forma: saúde na balança”. Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.
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08 julho 2007

MILAGRES NOS TEMPOS MODERNOS: DO DNA AO BOM SENSO

© Dr. Alessandro Loiola

Uma amiga baiana mandou um email esta semana querendo tirar algumas dúvidas. Pude até imaginar como perguntaria pessoalmente:

- Sabe, tem tanta coisa absurda circulando na Internet que tem vez que fica difícil separar o joio do trigo, né meu rei?

Neste caso, ela queria saber o que era sério e o que não passava de pura crendice depois de receber uma notícia bombástica sobre experimentos científicos realizados com o DNA. Estas pesquisas secretas – pasmem ! - comprovavam uma miraculosa capacidade do DNA para transmitir emoções através de campos de energia. Sim, desse nível. Imediatamente, lembrei-me do maravilhoso filme "A Menina e o Porquinho".

Se você não assistiu, permita-me fazer uma breve introdução: na película, uma aranha tenta evitar que um porquinho de excelente índole vá para a panela. Para tanto, ela começa a escrever palavras com sua teia, tentando comunicar aos humanos o valioso caráter do jovem leitão. Logo uma pequena multidão começa a visitar a fazenda e o celeiro, admirada com o “milagre”.

Na mesma fazendo da aranha escritora moram um casal e sua filha, uma menina apaixonada por todos os bichos do local e, em especial, pelo porco. Preocupada com os recentes acontecimentos, a mãe procura o médico da cidade vizinha: seria sua filha a responsável pelas palavras na teia da aranha?

Abre parênteses:

- Só pode ser ela, Doutor. Pense bem: o senhor não acha impossível uma aranha escrever com sua teia? - pergunta a mãe, entre aflita e incrédula. - É um absurdo, não um milagre!
- A senhora não acredita em milagres? - questiona o doutor. - Veja bem, a senhora tricota, não? – diz o médico, antes que a mãe possa se manifestar novamente.
- Sim.
- Isso porque ALGUÉM - frisou - lhe ensinou a tricotar, correto?
- Sim, é verdade.
- Mas quem ensinou a aranha, com aquele cérebro menor que a metade de uma cabeça de alfinete, a tecer algo tão incrível quanto sua teia?
- Eu entendo, eu entendo. Mas daí a escrever? Sinceramente...
- Minha senhora, a senhora ainda não entendeu. A aranha não precisa escrever com a teia para ser um milagre. A simples existência teia É o milagre.

Fecha parênteses.

A natureza milagrosa do DNA não precisa ser validada com pesquisas fantasiosas. O DNA é o PRÓPRIO milagre. E isto apenas já deveria ser explicação suficiente para uma espécie que se diz chamar Homo sapiens (Sapiens??).

Para compreender a extensão da nossa cegueira, vamos um pouco além, ainda na biologia e distante da metafísica. Na noite em que seus pais lhe conceberam, 250 milhões de espermatozóides viajaram para encontrar 1 dos mais de 500 óvulos de sua mãe. Fosse um outro óvulo, ou o vizinho daquele espermatozóide, você não estaria aqui. Tente fazer uma análise combinatória para ver quantas pessoas diferentes poderiam ter surgido naquela noite ao invés de você...

Pois justamente aquele óvulo e aquele espermatozóide se encontraram e, apesar de todos os riscos inerentes à anfimixia e ao processo de gestação, você está aí, completando suas primaveras. Você é uma improbabilidade estatística ambulante. Cada um de nós é.

E entre uma translação da Terra e outra, encontramos com alguém na rua que sofreu os mesmos riscos para se formar em humano. De todas as bilhões de estrelas e planetas, e quem sabe bilhões de universos, você e essa outra pessoa se encontram justamente naquele lugar, naquele momento, rodeados de outros seres vivos, e podem se comunicar e trocar sentimentos.
Faça novamente as contas: quais seriam as chances disso ocorrer?

Cada encontro com uma pessoa é um evento único. Cada dia de nossas vidas é como se dobrássemos as leis da Física e as probabilidades Matemáticas mais absurdas. Estamos caminhando contra todo e qualquer cálculo baseado na lógica. E ainda assim, viver parece ser a coisa mais corriqueira do mundo. Quando é um milagre.

Você não precisa quantificar campos magnéticos em moléculas de DNA ou presenciar fenômenos paranormais para perceber que existe algo de muito especial neste mundo. Tudo que você precisa é de um espelho.

E, com alguma sorte, de um pouquinho de lucidez.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.