“Tempos
estranhos são esses em que vivemos, quando velhos e jovens são ensinados na
escola da falsidade, e o único homem que se atreve a dizer a verdade é chamado
de uma só vez um louco e insensato.”
(Platão)
A Liberdade é uma abstração ambígua e pode
significar quase qualquer coisa. Ela é algo que achamos possuir na mesma
proporção que nos domina, uma substância escravizadora louvada em livros e nos
meios de comunicação, ou um mártir abolicionista impreciso por quem tantos já se
sacrificaram – e continuam sacrificando-se.
De acordo com o Aurélio, Liberdade é “o direito
de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o
direito de outrem”. Os filósofos, entretanto, abordam o tema por um enfoque
mais complexo que o encontrado nos dicionários.
Segundo Kant, enquanto seres humanos, somos
tanto parte do mundo Natural quanto do mundo da Razão. Com relação aos nossos
impulsos e desejos, estes pertencem à nossa natureza animal; são compreendidos
nos termos das necessidades geradas por circunstâncias físicas e nenhum padrão
moral se aplica a eles: pouco importa se alguém aprova o fato de você estar com
sono ou fome. Grandes frases éticas de efeito não são capazes de alterar esses
estados de modo notável. Estamos submetidos às mesmas leis naturais que
governam o mundo e não podemos suprimi-las apenas por que as rejeitamos.
Por outro lado, o homem é uma criatura capaz
de pensamentos morais e, por meios deles, criamos estatutos arbitrários para
nossas vidas. Seja na esfera das leis naturais ou nas leis criadas pelos
homens, a Liberdade aparece sempre ornamentada com cerceamentos.
Considerados alguns limites do razoável, existe
Liberdade de idéias expressão na maioria dos países do mundo – desde que não
sejam expressamente radicais e danosas. Podemos ir aonde queremos – desde que
atentos para algumas restrições. Podemos agir como desejamos – mas não de modo
completamente impune, especialmente quando nos posicionamos fora da lei. Em outras
palavras: a Liberdade é um devaneio fortuito em todos os cantos desse planeta.
POUCO MAIS
QUE UMA NOÇÃO INTANGÍVEL
A noção de Liberdade, como vista e vendida
pela sociedade pós-moderna capitalista atual, é mais uma emoção vaga que um
aspecto real da vida. Por mais que você esperneie dentro de seus conceitos de
autonomia e independência, não existe uma Liberdade geral, mas apenas
liberdades específicas.
Por exemplo: se o senhor de escravos tem o
direito de ter escravos, então os escravos não têm direito de ser livres. Se
eles têm o direito de ser livres, então o senhorio não tem o direito de
possuí-los.
Se uma mãe tem direito de fazer um aborto,
então seu bebê não tem direito à vida. Se ele tem direito à vida, então sua mãe
não tem direito de fazer um aborto.
Muito – ou praticamente tudo – que você fala
e faz e sente na verdade são manifestações de hábitos socialmente adquiridos.
Pare e reflita por um segundo: em que parte da sua vida você age realmente de
modo independente e livre?
A atividade humana resulta de impulsos que
emergem espontaneamente de dentro de nós como resposta às mudanças nas
circunstâncias, que então iniciam um processo de atividade física (na forma de
ações) ou mental (na forma de pensamentos).
Se as circunstâncias que encontramos são
familiares o suficiente, os impulsos produzem respostas automáticas. Contudo,
quando as circunstâncias não são familiares, os impulsos levam à atividade
mental; o hábito de pensar tem início, passamos a deliberar sobre qual caminho
seguir e, então, agimos. A pergunta é: em ambos os casos, a ação física
derradeira é fruto de uma escolha livre ou, no final das contas, ocorre como
resultado de condicionamentos prévios?
A emoção da Liberdade jamais é plena, mas uma
noção relativa – e aparentemente sempre pré-condicionada. Por isso, todo aquele
que tenta proteger-se e justificar suas ações apelando em nome da Liberdade
está apoiando-se em um discurso de limites vazios – e é terrivelmente simples
estabelecer uma tirania a partir destes conceitos. Os heróis da independência
de um povo nunca lutaram pela Liberdade desse povo, mas apenas pela troca de
Controladores.
LIBERDADE
INDIVIDUAL E LIBERDADE SOCIAL
Individualmente, a Liberdade possui um
sentido diferente de seu significado social. No nível pessoal, Liberdade tem a
ver com fazer o que você gostaria de fazer. Socialmente, Liberdade tem a
ver com autorizar que as pessoas façam o que gostariam de fazer.
Poderíamos nos referir à Liberdade Individual
como a capacidade de uma pessoa em tomar todas as decisões sobre sua vida,
propriedades e propósitos sem qualquer interferência de terceiros. “Faço o
que eu quero e não obedeço a ninguém”. Este tipo de Liberdade é concebível,
mas inalcançável: você tem Liberdade para viajar, para expressar suas opiniões
e viver sua vida da maneira como preferir, desde que se mantenha dentro da
legislação local. Fora desse cercado, a sociedade irá cobrar o preço.
Também poderíamos conceituar Liberdade Individual
como estar livre dos corolários de suas escolhas. “Faço como eu quero e
não presto contas a ninguém”. Mas suas escolhas produzem consequências, sejam
elas desejáveis ou não, o que torna esta convicção uma falácia ingênua – e,
novamente, passível de sanções pela comunidade.
A maioria dos libertários acredita que a Liberdade
individual requer a ausência completa de restrições, mas todas as sociedades,
por mais livres que sejam, possuem leis, normas e preceitos para assegurar que
a liberdade de um ser humano não implique na coibição da liberdade de outro ser
humano.
Uma sociedade sem qualquer limite resultaria
em nenhuma Liberdade para todos dentro dela. Sem leis e certas expectativas de
adequação social, e sem lideranças firmes (Controladores) para impô-las, a
sociedade não existiria. Seríamos uma massa caótica de predadores carnívoros
devorando-nos uns aos outros. Ou pelo menos assim me disseram.
Mas é fato que sua Liberdade – Individual e
Social - é ditada por aqueles que lhe controlam, sejam “eles” seus pais, o
Governo, o Estado, a bateria do seu celular, sua conta de energia elétrica ou o
banheiro mais próximo. Qualquer pessoa trabalhando em uma empresa ou morando em
um prédio deve ater-se a um conjunto de regras e procedimentos. Pessoas em
relacionamentos – sejam eles românticos ou de amizades, ou apenas interações
familiares – devem se comportar de uma determinada maneira, ou sofrerão
isolamento social.
Os Controladores de sua Liberdade podem ser
questionados, debatidos ou repudiados, mas jamais poderão ser evitados. Lutar
para furtar-se deles é inútil. Quanto mais cedo você compreender e aceitar esta
conjuntura, mais proveitosa será a serventia de seu Tempo.
AUMENTANDO
SUA LIBERDADE
O problema com a Liberdade está no fato dela
não ser algo de evolução natural: ela é uma noção artificial patrocinada pelas
vontades e ações daqueles que controlam o poder. Mesmo nas sociedades e nos
relacionamentos “democráticos”, os mecanismos Controladores encontram uma
maneira para impor suas vontades e seus pontos de vista, em geral sob o
discurso de estarem agindo “em nome de um bem maior”.
Você pode ter crescido em um lar ou nação que
outras pessoas considerariam um ambiente opressor, mas como você nunca conheceu
outro estilo de vida, aquele estilo pode lhe parecer livre o suficiente. Todos
vivemos em “sistemas” que influenciam o que fazemos e o que não fazemos, e
existimos sob a égide de escolhas permitidas.
Ninguém é Livre no conceito puro e irrestrito
de Liberdade: a Liberdade, derradeiramente, deriva de percepções subjetivas. E
justamente por ser um desenvolvimento íntimo no caráter de cada um de nós, a consciência
de Liberdade pode ser ampliada. Como? Com Educação.
Apenas a Educação, por meio do estudo da
Razão e do emprego corajoso da Filosofia, é capaz de aumentar suas
possibilidades de escolhas lúcidas e criar algum sopro de Liberdade verdadeira
fora da prisão de seus condicionamentos precedentes.
Se quiser investir em Liberdade, invista
em seus aprendizados. Estude, leia muito e reflita bastante. Qualquer outro
caminho além desse é puro delírio com grades douradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário