25 maio 2011

PEGAÇÃO EVOLUCIONISTA

© Dr. Alessandro Loiola


Após uma seqüência alienígena de plantões ininterruptos, daquele tipo que visa provar que seres humanos podem, sim, sobreviver tranqüilamente dormindo menos de 4h por semana, sentei na frente do computador em crise criativa. Sobre o que escrever?

Por sorte, ao checar a caixa de email, havia a solicitação de uma repórter para um artigo sobre... sedução. Pronto, bingo!

Este sempre foi um excelente tema. Até porque, quem nos batizou de Homo sapiens não sabia de nada. Somos Homo carenttis, isso sim. Homens e mulheres. Passamos a existência nos sentindo misteriosamente sós em um planeta com mais de 6 bilhões de indivíduos da mesma espécie.

A explicação para este perene e suave sentimento de solidão pode estar na parte da medicina que estuda o desenvolvimento dos embriões, a embriologia.

Sem querer soar freudiano, temos uma vida generosa no útero materno. Nada de fome, indigestão, calor, frio, cartão de ponto, mensalidade da escola das crianças, louças do final de semana criando um crocodilo na pia da cozinha... nada disso. Um eterno feriado em um spa 6 estrelas, onde recebemos tudo na mão.

Quer dizer, não exatamente na mão, mas na barriga, pelo cordão umbilical, depois de uma checagem rápida das malas na alfândega da placenta. Mas você captou o conceito.

Pois então, como satisfazemos nossa saudade do conforto recebido no útero materno? Fácil: utilizando uma ferramenta chamada sedução.

Você irá encontrar um monte de definições frias e calculistas para o verbo “seduzir” no dicionário, mas o que ele significa mesmo é algo muito simples. Seduzir é a arte de manipular analiticamente os outros para obter atenção. E esta atenção, como uma massa de pizza pronta para ser levada ao forno, pode se transmutar em uma amizade, um namoro, um casamento, uma promoção, uma gentileza, um lugar mais na frente da fila – o que você quiser.

Estamos a (e precisamos) seduzir o tempo todo. A sedução foi a chave de fenda que apertou os parafusos entre os óvulos e os espermatozóides de nossos pais e mães. Ela está impregnada em seu DNA, é quem mantém nosso tecido social vivo. A sedução está na base do mundo que construímos – e é absolutamente necessária.

Recentemente, tem havido um retorno da mídia para este tema. Desde o filme “Hitch – conselheiro amoroso”, com Will Smith (se não assistiu, alugue ainda hoje!) até a febre em formato de reality-show chamada VH1 – The Pickup Artist, que promete transformar bobalhões tímidos em super-Don Juans, a sedução está novamente na crista da onda.

Boa parte destes filmes, sites e revistas que pretendem ensinar a arte da conquista sedutora se apóiam em sólidos conceitos de psicologia evolucionista, que podem ser resumidos em 3 pontos universais:

1. Selecione quem você vai seduzir. Para diminuir o risco de receber um fora 0,01 segundo após abrir a boca para falar qualquer coisa, jogue sua rede através do contato olho-no-olho. Uma boa troca de olhares é o primeiro sinal de receptividade.

2. Não perca tempo: obedeça a “regra dos 3 segundos”. Já experimentou ficar parado com o carro no meio do trânsito após um sinal verde? Em 3 segundos vem uma buzinada. Na arte da sedução, vale o mesmo princípio: a troca de olhares significa que o sinal abriu? Sorria, utilize toda sua linguagem corporal e mova-se imediatamente!

3. Fuja do protocolo: mostre que você tem algo de diferente, que seus genes podem oferecer uma variedade de novas qualidades superiores à média ao seu redor.

Um bom exemplo de protocolo que dá sono: as famigeradas perguntas “você vem sempre aqui?” (Não, na verdade neste exato momento estou dormindo na minha casa...), “você trabalha com quê?” (sou um traficante internacional de órgãos e vim nesta festa me esconder da Interpol), e “acho que te conheço de algum lugar”... essa... sem comentários.

Uma tática para fugir do protocolo e adicionar pontos à sua técnica de sedução é fazer algo quase extraordinário em um encontro: peça a opinião da outra pessoa em algum assunto, trivial ou relevante.

Controle-se, não interrompa dizendo o que você acha sobre o que você mesmo acabou de perguntar – se fosse este o caso, bastaria sentar-se com seu Ego na mesa mais próxima para um longo monólogo.

Ouça a outra pessoa com interesse genuíno e engate uma conversa a partir daí. Esta é uma estratégia mágica, de sucesso quase garantido. Afinal, alguém que deseja saber a opinião de uma pessoa tão extraordinária quanto você só pode ser uma pessoa extraordinária também, certo? É assim que nós, Homo sapiens carenttis, funcionamos.

E a vida segue.

2 comentários:

Su disse...

Excelente texto, meu amigo! Não tem como ler seus textos e não jogar confetes, você sempre consegue escrever um texto interessante por mais simples que seja o tema. Já estava sentindo falta deles por aqui! Abraços! Su

Carol disse...

Gostei... estava falando exatamente DISSO com a minha mãe ontem... da arte de SEDUZIR!!! Embora todas as pessoas tenham esse DOM, poucas usam hoje em dia!!! =) Bjos Cah