27 outubro 2007

DONA MARIA ARTRITE E SEUS QUILINHOS INVENCÍVEIS

© Dr. Alessandro Loiola


Passei na enfermaria para dar alta a uma conhecida de longa data que havia sido internada por infecção nos rins. Apesar dos remédios terem funcionando muito bem e a infecção ter sido curada, Dona Maria se recusava a ir para casa.

- Mas como é que eu vou embora assim cheia de dores, doutor?
- Cheia de dores onde, Maria?
- Olhe meus joelhos como estão! E meus tornozelos! – e se esticou sentada e balançando na beirada da cama, alternando uma massagem leve sobre uma perna e então a outra.
- Dona Maria, há quanto tempo a senhora faz acompanhamento comigo?
- Ah, doutor, tem uns anos já, né?
- Tem uns anos realmente. E durante esses anos, qual sempre foi nossa maior briga? Ela ainda tentou desviar os olhos, mas como desviar os ouvidos?
- Maria, você tem o quê... 1,45m de altura... ou um pouco menos. E da última vez estava pesando mais de 80 Kg. Isso somado aos seus 60 anos de idade, só poderia resultar nessa artrite aí. A pergunta, Maria, é: o que você irá escolher? Perder peso e ficar com a perna, ou perder a perna e ficar com o peso?
- Ah, doutor, mas emagrecer é tão difícil... eu já tentei e não consegui. O senhor bem que poderia me dar pelo menos um remédio pra acabar com essas artrites de uma vez por todas...

Como não tenho especialização em Curandeirismo Milagroso, Dona Maria terminou mesmo indo embora com sua artrite parcialmente medicada, mas não resolvida. E sei que logo ela estará chegando no consultório reclamando novamente das pernas e dos quilinhos invencíveis. Afinal, em um mundo que se acostumou a tantos confortos, quase ninguém quer um pouco de esforço.

A Artrite afeta cerca de 1 em cada 5 pessoas por volta dos 60 anos. O problema é mais comum nas mãos, nos joelhos e no quadril, e os sintomas podem variar desde inchaço leve até dor intensa e incapacitante. No início da doença, a dor ocorre apenas durante o esforço, aliviando com o repouso. Contudo, com a evolução do distúrbio, a dor passa a ocorrer até mesmo durante o repouso.

O excesso de peso é um dos fatores de risco mais importantes para algumas formas de artrite. Os quilos a mais colocam um estresse extra sobre as articulações que sustentam o corpo, tais com joelhos e quadris. Pesquisas mostraram que mulheres obesas que emagreceram também experimentaram uma redução substancial no desenvolvimento de osteoartrite nos joelhos. Ainda, na presença de osteoartrite em um joelho, a redução de peso ajuda a diminuir a chance de ocorrência da doença no outro joelho.

Infelizmente, não existe um tratamento único que possa ser aplicado a todas as pessoas com artrite, mas algumas medidas simples parecem funcionar em boa parte dos casos:

- Aplicação de calor e gelo: a decisão de utilizar calor ou gelo depende do tipo de artrite e deve ser discutida com o médico. Compressas de calor no local afetado por cerca de 15 minutos aliviam a dor, mas não o inchaço. Por outro lado, compressas geladas reduzem tanto o inchaço quanto a dor, mas não devem ser utilizadas em pessoas com de problemas de circulação.

- Talas, tipóias, bengalas e andadores são úteis para aliviar a sobrecarga de peso sobre as articulações, mas não eliminam a necessidade de reduzir as gordurinhas em excesso.

- Quando aplicada adequadamente e por pessoa habilitada, uma boa massagem é capaz de aumentar o fluxo sanguíneo e relaxar a área afetada. O mesmo efeito analgésico pode ser obtido com acupuntura, natação, caminhadas e exercícios de alongamento.

- Alguns suplementos naturais, como cobre, zinco, condroitina, glucosamina, metionina, selênio, bromelina, alcaçuz, bardana e cinco-folhas, entre outros, são extremamente úteis para estimular a recuperação das articulações afetadas. Mas vale a lembrança: medicamentos naturais devem ser empregados sempre sob orientação especializada.


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

25 outubro 2007

LIVRO E RESILIÊNCIA

Queridos amigos e amigas,

após meses de perseverança, pesquisa e muito trabalho, é com enorme prazer q comunico a vocês o lançamento do livro PARA ALÉM DA JUVENTUDE - GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL, através do site da Editora Leitura.

Mais informações sobre o livro podem ser obtidas através do meu álbum no orkut ou através do próprio site da Editora Leitura.

Acreditem: é uma alegria e uma honra ainda maior poder compartilhar este momento com vcs.

Deixo-os agora com a crônica de hoje, que fala justamente sobre como desenvolver a resistência frente às adversidades.

Um forte abraço,

Dr. Alessandro Loiola.

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DESENVOLVENDO A RESILIÊNCIA

© Dr. Alessandro Loiola


Toda vez que duas áreas da ciência conversam, nasce algo de novo e interessante. Foi assim quando a Engenharia encontrou a Medicina, e ambas produziram ferramentas diagnósticas de enorme utilidade como a ultra-sonografia e a tomografia computadorizada. Recentemente, a Psicologia dialogou com a Física e descobriu um conceito muito versátil: Resiliência.

Para entender o que é Resiliência, é preciso antes compreender os tempos em que vivemos. Segundo Woody Allen, “nunca antes na história da humanidade as pessoas se viram frente a tantas encruzilhadas: alguns caminhos levam ao desespero, outros à desesperança, e outros à extinção completa da raça humana. Vamos rezar para que a sabedoria nos permita fazer a escolha certa”.

Esta sabedoria se chama Resiliência. Na Física, Resiliência é a quantidade de energia que um material é capaz de receber antes de se deformar de maneira irreversível. Na Psicologia, Resiliência virou a capacidade de ter coragem para mudar o que pode ser mudado, serenidade para aceitar o que não podemos resolver, e inteligência para diferenciar uma situação da outra.

Os cientistas calculam que o desenvolvimento da Resiliência é capaz de reduzir em até 75% o risco de problemas cardíacos. Contudo, o maior obstáculo está na resposta instintiva de “luta ou fuga”: pessoas acostumadas a viverem no limite podem achar a idéia de Resiliência um sinal de fraqueza, resistindo (mesmo que inconscientemente) às medidas de controle do estresse.

Se você quiser vencer seu instinto e tornar-se um mestre na arte da Resiliência, basta seguir alguns passos simples. Anote aí:

IDENTIFIQUE A FONTE DE ESTRESSE

Anote em um diário tanto as experiências negativas quanto as positivas. Após uma ou duas semanas, você será capaz de identificar as 3 principais situações estressantes de sua vida. Veja o que pode ser feito para eliminá-las de sua agenda.

REESTRUTURE AS PRIORIDADES

Nem sempre é possível ou prático eliminar todas as situações estressantes. Nestes casos, a saída é aumentar o peso do lado positivo, priorizando as atividades que lhe dão prazer.

Pequenas decisões ao seu favor podem ser o bastante para construir uma existência menos estressante e muito mais produtiva: não abra mão dos seus finais de semana ou férias. Utilize suas horas de folga para planejar passeios (e faça-os !). Guarde alguns minutos todo dia para fazer absolutamente nada. Uma vez por semana, saia do cardápio e coma uma guloseima, etc.

AJUSTE SUA RESPOSTA

As pesquisas mostram que todos podem aprender a dosar o padrão de reação emocional ao estresse.

Por exemplo, no bar beira de praia, ao receber sua porção, não se exalte. Comente para o cozinheiro enquanto cospe para o lado: “rapaz, os caranguejos estão tão frescos que ainda dá pra sentir o gosto da areia neles!”.

UTILIZE TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

Tudo bem, você ameaçou perder as estribeiras quando o cozinheiro lhe trouxe uma colher e disse sorrindo, apontando para a casquinha de siri: “é pro senhor comer os grãos mais sossegado”. Não quebre o quiosque todo ainda: tente algumas técnicas de relaxamento antes.

Respirar fundo aumenta a oxigenação do cérebro e reduz os batimentos cardíacos. Inspire e expire lenta e profundamente pelo nariz, enquanto conta até dez. Repita o exercício até que a imagem do cozinheiro sendo estrangulado desapareça de sua mente.

ACEITE AJUDA

Ter uma boa rede de amigos é essencial. Por exemplo: vai que o cozinheiro dá dois de você? Impossível estrangular o cabra sozinho, sob o risco de ser preparado por ele feito um Peroá bem na frente das crianças.

As pesquisas mostram que a maioria das pessoas Resilientes possui muitos amigos. Afinal de contas, se fosse para você resolver todos os problemas do mundo sozinho, para que haveria tanta gente espalhada por aí? Não tenha medo de pedir ajuda – a surpresa conta a seu favor.
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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.

15 outubro 2007

EM TERRA DE CEGO

© Dr. Alessandro Loiola


Microempresário, 59 anos de idade, José Antônio chegou trazendo o pacote habitual de obesidade, hipertensão, diabetes e sedentarismo. Com um bônus óbvio: disfunção sexual.

Separado há alguns meses, arrumara uma menina nova, “um filé, doutor”, entretanto...

- Essa semana fomos a um motel e o senhor sabe como é... – disse o José, olhando firme para as próprias mãos cruzadas sobre a mesa, talvez esperando que eu dissesse “sim, eu sei”, mas eu lá sabia de coisa alguma? Não sou de ficar monitorizando pacientes em motéis, não.

– Então... ficamos naquele rala e rola e... nada. Quer dizer, na mente eu até queria e muito, mas o equipamento não correspondia às expectativas, entende?

Agora sim, entendia perfeitamente. E agradeci mais uma vez à natureza por tornar o “equipamento” masculino tão sensível a outras alterações da saúde. Porque, se não fosse o fantasma da impotência sexual, a maioria dos homens não passaria a menos de 60 Km do consultório médico mais próximo.

Após o exame clínico com direito até à furada no dedo para aferição da glicose, tentei explicar ao José que o problema não estava lá embaixo. O problema estava em todo canto.

- Zé, você está pelo menos uns 30 Kg acima do seu peso e sua glicose bateu em 220. Isso para não falar da pressão arterial de 210 por 130. A combinação destes ingredientes pode resultar em várias coisas, desde derrame até infarto fulminante. Felizmente, no seu caso, o sintoma de alarme foi um problema na ereção. Dos males, o menor.

- Mas eu peso isso desde novo, doutor, e nunca sofri com problemas de desempenho. Tudo bem, minha pressão sempre foi um pouco mais para alta mesmo, mas eu mantenho tudo sob controle só com dieta, há muito tempo.

Foi nesse ponto que eu tive que explicar melhor ao José a verdade crua que se esconde por trás do conceito abstrato de Tempo, e das conseqüências das escolhas que fazemos enquanto ele passeia pelo relógio.

Imagine o descaso com seu corpo como uma goteira pingando bem no meio da sala. Ao invés de consertar a bendita goteira, você decide tomar a mesma medida equivocada que 13 de cada 10 pessoas costumam tomar quando o assunto é a própria saúde: você coloca um copo para evitar que o pinga-pinga molhe seu precioso sofá de couro. Mas com o passar das horas, o copo irá encher. Não na primeira ou na segunda gota, mas eventualmente o caldo irá entornar. Acontece exatamente o mesmo com os abusos que você comete contra sua saúde.

O cigarro, os excessos alcoólicos, a gordura e até mesmo o rancor, o remorso e a ansiedade são todos goteiras, notas promissórias que você terá que pagar um dia. Para manter-se na crista da onda você deve evoluir, abrir mão do balde debaixo da goteira, diminuir suas dívidas futuras, evitar a filosofia do “deixar como está para ver como é que fica”. A cada nova década, o Tempo lhe entregará um novo corpo. Adapte-se a ele, aos seus limites, características e exigências.

Tome como exemplo o cérebro. Entre os 20 e os 65 anos de idade, perdemos cerca de 10 bilhões de neurônios. Felizmente, esta redução do número de células cerebrais é compensada pelo aumento no número de conexões que elas fazem entre si. Em outras palavras, a natureza compensa o encolhimento do cérebro com uma coisa chamada Aprendizado, que eventualmente deságua em Sabedoria.

Se você insiste em fazer vista grossa para as promissórias que continua assinando, abrindo mão do seu potencial de evolução em cada batida do relógio, então os anos estão passando em vão e você corre o risco de terminar como aquele marido, resmungando na frente do espelho:

- Estou me achando tão velho e acabado... Ei, você bem que podia dizer alguma coisa pra me alegrar, né?

E sua mulher lhe responderá sem tirar os olhos da novela na TV:

- Ora, sua visão continua ótima, querido!


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Dr. Alessandro Loiola é médico, palestrante e escritor, autor de PARA ALÉM DA JUVENTUDE – GUIA PARA UMA MATURIDADE SAUDÁVEL (Ed. Leitura) e VIDA E SAÚDE DA CRIANÇA (Ed. Natureza). Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.