A sociedade tem
todo um discurso politicamente correto sobre igualdade entre os gêneros que
funciona muito bem até o pneu do carro furar, ou alguém ter que matar uma
barata voadora, ou passar por uma TPM (Tempestade Pré-Menstrual), ou você
receber a notícia de que sua mulher está grávida. Em momentos como esses, as
diferenças entre os sexos tendem a se tornar inquestionáveis e avassaladoras.
A gravidez, em
especial, mostra o grande divisor de águas que existe entre homens e mulheres.
Uma vez ocorrida a sacanagem em nível celular - o óvulo dela dormiu com seu
espermatozoide -, sua mulher passará os 9 meses seguintes gestando um parasita
dentro de si e você não terá outra participação biológica mais relevante que
ficar observando o processo do lado de fora. Contudo, se você já deixou de ser
o bebezão da sua mãe, sua tarefa de procriador não termina no espermatozoide:
começa agora a missão de proteger e cuidar do bem estar de sua mulher e de sua
cria em formação.
A gestação é um
desafio. Sua fêmea passará por transformações e irá sofrer de várias maneiras
diferentes. Ver você com cara de pateta sem saber o que fazer não alivia o
fardo dela - na verdade, isso tende a piorar a situação. Alguns sujeitos, por
medo ou ogrice, abrem mão de uma participação construtiva nesse período, e isso
não é NEM DE PERTO o que se espera de um Homem.
Ao invés de ficar
perdido na floresta fazendo cara de paisagem, que tal assumir um papel de líder
e apoiador? ISSO sim, é o que se espera de um Homem. E vou lhe contar como
fazer isso.
COMO CUIDAR
DA SUA MULHER GRÁVIDA
É possível dividir
seus cuidados em 10 ações práticas. Confira a lista abaixo e certifique-se de
ter um desempenho impecável em cada um deles:
1. RECEBA
BEM A NOTÍCIA. Não
interessa se foi tudo planejado nos mínimos detalhes ou se o bebê caiu na sua
vida como um meteoro vindo das profundezas do espaço. Você está para ter um
filho (ou filha). Mostre apreço e alegria pela notícia. Não desabe chorando em
agonia, ou desgosto, ou pouco caso, ou fique perguntando o que deu errado -
"você não estava tomando a pílula, pô?". Transmita confiança e
segurança. Seja Homem. Diga que você estará lá por ela e pela criança, e que
não medirá esforços para que tudo corra bem.
2. LEIA
LIVROS E TEXTOS SOBRE A GRAVIDEZ. A raiz do medo está no desconhecido - tememos
aquilo que não sabemos. Quanto mais você se informar sobre o que ela está
passando, melhor equipado você estará para desenvolver empatia e oferecer
ajuda.
3.
ACOMPANHE-A NAS CONSULTAS. Isto atende 3 propósitos. Primeiro e mais importante: mostra seu nível
de compromisso com ela e com o bebê. Segundo: você saberá em primeira mão o que
está acontecendo e como se preparar. Sua mulher pode estar nervosa e perdida
durante o atendimento. Preste atenção ao que o médico ou a enfermeira irão
dizer, anote o que achar relevante e tire suas dúvidas. Você poderá lembrar sua
mulher mais tarde sobre as orientações recebidas. Finalmente, ver o ultrassom,
ouvir os batimentos cardíacos, aprender a palpar a barriga e determinar a
posição do bebê ajudará a você a desenvolver um vínculo emocional com aquela
criatura - que é um produto da sua vida e de quem você é. Mesmo que esteja
atarefado, dê um jeito e vá às consultas. Peça um atestado ao médico, se for
necessário. Eu nunca nego um desses.
4. DIMINUA
O ESTRESSE. Não
subestime o desgaste físico e emocional de uma gravidez. Diminua a pressão,
assuma mais tarefas em casa, assuma suas responsabilidades.
5. PROTEJA
O DESCANSO DELA. O sono na gestação pode ser tão monumental quando conturbado,
especialmente quando o útero assume aquele aspecto redondo, volumoso e
alienígena. Quando a mulher deita de costas, o bebê comprime sua coluna, os
músculos das costas e todos os grandes vasos sanguíneos que passam por ali.
Tudo isso pode causar dor, redução da circulação e dificuldade para dormir.
Além disso, o bebê pode usar o útero como um saco de areia onde ele insiste em
treinar golpes de MMA - imagine como deve ser dormir tomando socos e pontapés
na barriga pelo lado de dentro... Para ajudar no sono de sua mulher, invista em
um bom colchão e travesseiros enormes, ofereça massagens nas costas, carinho e,
dependendo da animação dela, alguns orgasmos.
6. SEJA
PACIENTE. As
variações hormonais são um saco. Um dia ela se sente fantástica, afetuosa e
sexy. Dois minutos depois, está chorosa ou quer arrancar a sua cabeça do corpo.
A libido dela também entrará numa montanha russa, tendendo a desaparecer no
primeiro trimestre, aumentar no segundo e então diminuir novamente no terceiro.
Paciência, amigo. Paciência.
7. CONHEÇA
SUA NOVA AMIGA: A BEXIGA. Como uma gangue do MST, o bebê vai se assentando e ocupando espaços
na pelve da mulher a medida que cresce. A primeira vítima dessa invasão é a
bexiga, que perde espaço e capacidade de armazenagem. A cada 20-30 minutos, ela
sairá correndo desesperada procurando um lugar para urinar. Seja compreensivo,
mantenha o caminho do banheiro livre e iluminado, e crie sempre uma rota de fuga
quando derem uma saída.
8.
ENGRAVIDE TAMBÉM. Não estou dizendo pra você colocar um monte de roupa debaixo da sua
blusa e andar por aí com as mãos na cintura, feito um bule. A intenção é fazer
você adicionar ou abandonar alguns hábitos, oferecendo apoio moral. Por
exemplo: não reclame que agora vocês não poderão acampar no Kilimanjaro ou
pular de asa delta juntos. Crie programas adaptados ao novo cenário.
9. NÁUSEAS
E ENJÔOS. Os enjoos
são, provavelmente, uma das piores partes da gravidez. Eles afetam 75% das
mulheres e costumam ser mais intensos pela manhã. O mal estar em geral
desaparece por da 12-15a semana de gestação, mas algumas mulheres ficam
nauseadas a gravidez inteira. Ofereça alimentos leves (p.ex.: chá de menta com
biscoito de água e sal), mantenha os ambientes arejados, cuide de sua própria
higiene (gestantes tem um clássico problema com cheiros, então escove bem os
dentes e cuidado com perfumes e desodorantes fortes) e seja flexível (adapte o
cardápio ao novo paladar dela).
10.
DESLUMBRE-SE COM O MILAGRE. Acima de tudo, encante-se com o fato de que vocês produziram juntos
uma improbabilidade estatística. Naquela noite (ou dia), havia uma única chance
em 44 bilhões para que a exata configuração de genes que resultou naquele bebê
tivesse ocorrido. A codificação molecular resultante daquele evento singular
obedeceu a princípios atômicos e propósitos evolutivos que você jamais será
capaz de compreender plenamente. A concepção é incrível, inacreditável,
absurda, surreal. E você nem precisa acreditar nela para perceber isso: basta
esticar a mão cuidadosamente à noite e tocar o pequeno milagre bem ali,
confortavelmente escondido nos recônditos da barriga de sua mulher.
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