A Medicina
Baseada em Evidências (MBE) aplica o método científico à prática médica,
permitindo que os profissionais de saúde tomem suas decisões de forma consciente,
explícita e judiciosa, com base nas melhores evidências atuais disponíveis.
Apesar
dos defensores da medicina alternativa reconhecerem que o efeito placebo pode
ter um papel nos benefícios que algumas terapias produzem, eles também salientam
que este “detalhe” não diminui a validade dessas abordagens. Os praticantes
acreditam que a medicina alternativa pode oferecer ganhos no sentido de
permitir um “empoderamento” dos pacientes, ampliando as possibilidades de
escolha do público. Contudo, os pesquisadores que avaliam as abordagens
alternativas utilizando métodos científicos preocupam-se com este ponto de
vista, uma vez que ele é incapaz de avaliar a possível ineficácia dos
tratamentos alternativos.
Desde
que os tratamentos alternativos sejam utilizados concomitantemente aos tratamentos
convencionais, a maioria dos médicos enxerga a medicina complementar como um
recurso aceitável. O risco da medicina alternativa interferir com a medicina
convencional é minimizado quando a prática alternativa é acionada apenas após
exaustão dos recursos terapêuticos convencionais. Muitos pacientes sentem que a
medicina alternativa é útil para lidar com doenças crônicas para as quais a
medicina convencional oferece apenas um suporte, mas nenhuma possibilidade de
cura.
Uma vez
que muitos tratamentos alternativos alcançaram a prática médica, precisamos
determinar uma coisa: não podem existir DUAS formas de medicina – uma convencional
e outra alternativa. Deve existir apenas UMA forma de medicina: aquela que foi
adequadamente testada e que funciona. Uma medicina que não foi submetida a
testes, que se recusa a ser escrutinada pelo método científico e aceitar suas
conclusões, ou que não provou irrefutavelmente sua eficácia, não deve ser
chamada de medicina, ela não merece o rótulo de Ciência, mas de curandeirismo.
Uma vez
que um determinado tratamento foi rigorosamente testado, não interessa mais se
ele era considerado alternativo ou não: se ele se mostrou razoavelmente seguro
e eficaz, terá sua validação científica e poderá ser considerado uma prática ética.
Por este
motivo, muitos dizem que não existe “medicina alternativa”. Existe apenas uma
medicina, aquela cientificamente comprovada, apoiada por evidências sólidas.
Não interessa se um determinado recurso é Ocidental ou Oriental, se é
convencional ou alternativo, se envolve técnicas de mente-corpo ou genética
molecular. Estes aspectos em si são irrelevantes, exceto por propósitos
históricos ou curiosidades culturais. Como um fiel defensor da ciência e das
evidências, acredito que devemos focar no que é realmente importante: o
paciente, a doença, o tratamento proposto, e os dados sobre segurança e eficácia
da abordagem escolhida.
Não
interessa se uma conduta é convencional ou alternativa: o que interessa é se
ela está à altura dos padrões exigidos pelo método científico. Se estiver, esta
conduta será muito bem vinda. Se não estiver, ela deve ser debatida com extrema
cautela. Se provar ser maléfica, deverá ser sumariamente eliminada do rol de recursos terapêuticos.
Muitas
formas de medicina alternativa são rejeitadas pela medicina convencional, pois
a eficácia desses tratamentos não pode ser demonstrada por meio de estudos
clínicos controlados, randomizados e duplo-cego. Em contrapartida, os
medicamentos convencionais que chegam ao mercado só obtém seu registro e
liberação para venda após terem sido submetidos a estes testes, comprovando sua
eficácia.
O alívio
sintomático produzido por uma determinada abordagem alternativa pode decorrer do efeito placebo, ou
da recuperação natural do organismo, ou da natureza cíclica natural da própria
doença (regressão espontânea), ou do fato de que aquela pessoa jamais esteve
verdadeiramente doente. Os defensores da medicina alternativa dizem que esses
raciocínios também podem ser aplicados aos casos onde a medicina convencional foi
utilizada. Todavia, os críticos das práticas alternativas observam que esses
raciocínios não respondem pela eficácia das práticas convencionais validadas quando
submetidas a testes clínicos duplo-cego.
Contra
fatos não há argumentos – e a MBE respalda-se em fatos, em estudos clínicos bem
desenhados, em revisões sistemáticas e meta-análises criteriosas – e não em
pressupostos, crenças, doutrinas ou provas testemunhais isoladas.
As pessoas
devem ser livres para escolher qualquer tratamento que lhes apetecer, mas elas
DEVEM ser expressamente informadas quanto à segurança e eficácia de suas escolhas.
Aquelas que optam por recursos alternativos podem achar que estão optando por
uma forma segura e eficaz de medicina, quando na verdade estão recebendo apenas
remédios de curandeiro.
Algumas
pessoas que obtiveram sucesso ao tratar um problema de menor importância utilizando
recursos alternativos podem se convencer dessa eficácia e extrapolar a
expectativa de sucesso, utilizando mais recursos alternativos, desta vez para
resolver doenças mais sérias, muitas vezes potencialmente letais.
Exatamente
por este motivo, as terapias que se baseiam apenas no efeito placebo para
definir seu sucesso são perigosas: abordagens terapêuticas que não possuem o
suporte de evidências científicas podem levar alguns indivíduos a menosprezar os
tratamentos convencionais sabidamente eficazes.
A
oportunidade de uma abordagem alternativa pode resultar em um custo extra para a
abordagem convencional: o sujeito pode investir grandes somas de tempo e
dinheiro em tratamento ineficazes, apenas para mais tarde flagrar-se sem ambos
(dinheiro e tempo) e fora da janela de oportunidade para empregar um tratamento
validado pela MBE.
Deveríamos
nos preocupar em adicionar mais e melhores pesquisas para provar a eficácia das
terapias complementares antes de incorporá-las formalmente à prática médica –
mas infelizmente, não é isto que vem ocorrendo.
Deveríamos
buscar evidências clínicas e biológicas suficientemente plausíveis para
justificar o investimento de tempo e energia na exploração dos méritos da
medicina alternativa – mas infelizmente, também não é isto que vem ocorrendo.
Para a
medicina tradicional, a vida humana é considerada preciosa, e NENHUM risco se
justifica quando se coloca na balança a chance de prejudicar a saúde de um
indivíduo. Se este é também o mantra das terapias alternativas, elas deveriam
se submeter ao escrutínio de estudos clínicos bem desenhados.
Se as
terapias alternativas funcionam, elas deveriam aceitar e desejar essa
validação. Mas você sabe de alguém disposto a testar sua fé por meio do método
científico?
Referência: