11 março 2018

UMA REFLEXÃO COMPLEMENTANDO O CAIXETA

Recentemente, através da fanpage Semiologia Médica, recebi uma reflexão até sensata creditada ao psiquiatra Marcelo Caixeta.

É o seguinte:

Como seria bacana se todos assumíssemos a Verdade! Teríamos um país mais eficiente, justo e próspero. Mas optamos por viver confortavelmente nessa fantasia agradável da mentira, fingindo que o óbvio não existe.

Quer um exemplo do mundo real? Vamos lá: na minha área profissional, a OS que gerencia o PSF estabeleceu contratualmemte uma meta de atendimento junto aos gestores municipais: 720 consultas / médico, dentro se uma carga horária de 160 horas mensais.

Se nós, médicos, passássemos todo o tempo consultando, teríamos exatamente 15 minutos para dedicar a cada paciente - entre receber na porta, dar bom dia, estabelecer um vínculo de confiança, ouvir queixas, conferir exames, solicitar exames e avaliações para especialistas (ah, se não pedir exame de sangue, fezes e urina e não encaminhar para Ortopedia, Cardiologia, Reumatologia, Ginecologia e Oftalmologia, você é um Ogro), revisar medicamentos, refazer a receita e explicar item por item (a maioria é de analfabetos funcionais e um número impressionantemente elevado é dependente de antidepressivos e benzodiazepínicos), fazer relatório para atividade física ou "para ver se encosta no INSS", anotar tudo (queixas, exame clínico, resultados de exames complementares, comorbidades, hipóteses diagnósticas e plano terapêutico) legivelmente no prontuário, cadastrar atendimento no e-SUS, perguntar se tem dúvidas, despedir e levar até a porta. Quinze minutos para esta rotina. Sem levar em conta as visitas domiciliares...

Ao final da maratona desse teatro, somos "convidados" para reuniões com os gestores, que querem que você responda a alguns questionamentos da ouvidoria: por que você demora no atendimento? Por que você atende rápido demais? Por que encaminhou a paciente que utiliza 4 medicamentos controlados para passar com o Psiquiatra? Ela se sentiu ofendida. E por que disse que as dores articulares daquela senhora com 1.58m de altura e 98 kg eram decorrentes de obesidade? Ela TAMBÉM se sentiu ofendida. E outra coisa: você não está atingindo a meta de atendimentos mensais...

Quer saber? Esse país não está indo para o buraco. Ele É o PRÓPRIO buraco.

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