28 março 2018

SOBRE IGNORANTES E BURROS IPSO FACTO

A IGNORÂNCIA ocorre quando, na impossibilidade de possuir ou alcançar determinado conhecimento, uma pessoa age de modo estúpido. Neste caso, é uma "estupidez perdoável", em sendo justificada pela ausência de meios e poderes para o Saber.

BURRICE, por outro lado, implica em ter acesso ao Saber, em possuir meios e poderes para obter Conhecimento - e muitas vezes ser até um depositário dele - e, ainda assim e a despeito dessa montanha de informações, agir de modo estúpido.

Os homens e mulheres do Paleolitico, por exemplo, eram Ignorantes.

O povo brasileiro, a massa absurda de pessoas que não estudam, não leem, não buscam Conhecimento, não apreciam ciência, não aprendem a discernir coisa alguma e tampouco refletem sobre as informações relevantes e embasadas disponíveis na palma de suas mãos, esse pessoal é só Burro mesmo. E não tem desculpa que os salve.

27 março 2018

NÃO LI, NÃO GOSTEI



No filme Meia Noite em Paris (2011), o escritor angustiado Gil - personagem de Owen Wilson – encontra-se em Paris com seu ídolo-mito, Ernest Hemingway.

Gil está terminando um livro e pede esperançosamente a seu novo amigo de balada, Hemingway, que o leia e ofereça algumas dicas.

- Você faria isso por mim? – pergunta Gil.

- Ler seu romance?

- Sim. Tem cerca de 400 páginas e eu adoraria ter sua opinião sobre ele...

- Bem, já vou lhe dizer minha opinião sobre seu livro: eu não gostei. - responde Hemingway, taxativo.

- Mas você nem o leu ainda...

- Se for ruim, eu o odeio por ser um romance ruim. Se for bom, terei inveja de sua escrita e odiarei o livro ainda mais.


A cena é rápida, mas ilustra bem uma peculiaridade que vem se desenrolando desde que a geração Millennial chegou por aí.

Chamados de "geração Peter Pan" pela escritora Kathleen Shaputis, os Millennials (pessoas nascidas após 1982) estão tornando o bordão “não li, não gostei” um mantra digno de um ataque cardíaco em qualquer mínimo admirador de Paulo Francis ou Nelson Rodrigues. Os Millennials são o supra-sumo da Crítica-Miojo – aquela crítica instantânea, que sai pronta, quente e selada em 2 minutos como uma pipoca de microondas.

“Não li, não gostei” se transformou em uma resposta-padrão para criticar qualquer texto, particularmente na internet. A frase levanta uma questão básica: será que o crítico “não li, não gostei” de fato não leu? Se leu, será que compreendeu? Se compreendeu, será que refletiu sobre seu entendimento?

Se partirmos do princípio que “não li, não gostei” significa exatamente isso mesmo – que o texto criticado sequer foi lido, tendo sido jogado diretamente na caixa do “não gostei”, o que temos é uma demonstração absurda de preconceito justamente por parte de uma geração que se diz “a mais tolerante e anti-preconceito” de todas.

Um leitor não tem que gostar de cada palavra que lê, especialmente quando acredita que pode oferecer críticas construtivas para melhorar a qualidade dos textos futuros de um determinado autor. Nem tudo é do gosto de todos e, quando um determinado autor se coloca na vanguarda de um determinado assunto, é quase certo que você irá encontrar algo que não aprecia.

Apesar de muitos escritores terem sérios problemas ao avaliar seus próprios talentos (falaremos sobre narcisismo mais a frente...), alguns leitores sofrem do mesmo problema: “não gostei, não li” serve para se livrarem de enredos que não se desenrolam segundo seu gosto, de idéias que não estão alinhadas às suas, de posicionamentos que confrontam suas “verdades absolutas prévias”, e de basicamente qualquer estímulo ao raciocínio que puxe o cobertor na aconchegante cama de suas zonas de conforto infantilizadas.

CRÍTICAS E NARCISISMO

É duro receber críticas. Não interessa como elas se apresentam – recheadas com leite condensado, perfumadas como um gambá ou pungentes como um soco no estômago. Críticas são sempre azedas. E críticas de literatura – sejam elas abordando textos, crônicas, contos, romances, enciclopédias ou guias das galáxias - são ainda mais complicadas. Todavia, se tornam ainda mais azedas e mais complicadas quando acompanhadas do bordão “não li, não gostei”.

O sujeito-miojo – ou sujeita-mioja - do “não li, não gostei” em geral tende a ser alguém com um sentimento de inferioridade ou personalidade auto-vitimizante, um intelecto no máximo mediano, com pouco humor ou perspectivas sobre sua própria vida, e obcecado em diminuir seu sofrimento ganhando atenção, qualquer tipo de atenção.

É óbvio que isto deve ser diferenciado da crítica ferrenha de alguém que leu o escrito, ponderou sobre ele, fez sua própria pesquisa sobre autor e obra, e construiu um parecer abrangente e fundamentado sobre o exposto.

A turma do “não li, não gostei” não faz coisa alguma disso. Ela não quer trabalho. Ela olha a manchete, olha a foto da capa do livro, olha a cara do autor na orelha e forma uma opinião tácita: “Não li, não gostei”, e pronto. Não interessa se o assunto não se desenrola ao longo de 400 páginas de um modo diferente daquele que o crítico-miojo acredita: só pela fonte escolhida para o título ou pela edição da imagem ele já sacou tudo. E não gostou.

Nada disso deveria ser motivo de surpresa: os Millennials estão exatamente na faixa etária do clímax do narcisismo. A incidência de transtornos narcisistas é 3 vezes maior entre pessoas na faixa dos 20 anos que entre aquelas com 65 anos ou mais, por exemplo. E os estudantes de hoje apresentam índices de narcisismo 58% acima daqueles de estudantes da mesma faixa etária em 1982.

A coisa está tão feia que, se você tem entre 20 e 35 anos de idade, provavelmente está pensando que este texto é uma ofensa à sua pessoa em particular, e não uma análise de toda uma geração... Haja narcisismo...

FRUTOS DA CULTURA DA INFÂNCIA-MEDALHINHA

Os críticos-miojo da geração Millennial foram formatados ainda na infância pela Cultura Medalhinha. Sabe aquela criança que ganhou uma medalhinha na competição esportiva da escola simplesmente porque participou da corrida, mesmo chegando 5 posições atrás do último colocado? Então. Dez anos depois ela se tornou um Millennial crítico-miojo.

As crianças-medalhinhas cresceram recebendo congratulações, cafuné, beijinhos da mãe e tapinhas nas costas não por terem cumprido seu dever com honra e determinação, ou por terem demonstrado superação com resultados quando colocadas sob pressão, mas simplesmente por “estarem lá”.

“Estar lá” era suficiente para que elas ganhassem uma medalhinha, para que fossem reconhecidas, valorizadas, agraciadas, respeitadas. E agora, como “estão lá” – na entrevista para um emprego, no meio de um relacionamento ou cuspindo suas críticas superficiais nas 11 dimensões do mundo líquido hiperconectado -, elas querem receber o mesmo mimo que seus pais sempre lhes deram. Querem ser premiadas. Querem gratificações. E querem neste instante.

“Não li, não gostei” é apenas uma manifestação desta mesma geração pós-moderna multitarefa que faz mil coisas sem terminar coisa alguma.

As crianças-medalhinha cresceram e viraram adultos que moram com seus pais, não terminaram a faculdade e não conseguem assumir qualquer compromisso de médio prazo – mesmo estando na beira dos 30 anos de idade. Como são multitarefas, antenados, informatizados, descolados, eles têm aquela opinião formada sobre tudo – filmes, livros, revistas, músicas, carros, sexo, países, aquecimento global, resfriamento global, espécies em extinção, modelos econômicos e ideologias sócio-políticas – que nunca estudaram a fundo.

Mas eles não precisam estudar. Eles dizem “não li, não gostei” e isso parece resolver tudo na cabeça dessa gente. Se porventura você comete a blasfêmia de recomendar que leiam, que reflitam, que construam de fato seu próprio entendimento sobre o assunto, as ex-crianças medalhinhas rapidamente dizem não ter tempo, não ter interesse, ter mais o que fazer (arrumar o quarto seria uma boa idéia, né?...), e vociferam que você é um preconceituoso coxinha fascista opressor por sugerir que o crítico-miojo não sabe o que ele não sabe.

Segundo o jornalista e escritor André J. Gomes, “quem bate no peito com orgulho e diz “não vi e não gostei” é uma besta monumental”.

“Quando alguém encerra um assunto sem sequer tê-lo olhado pelo buraco da fechadura está assumindo uma postura de ignorância proposital, desprezando e pisoteando uma das poucas verdades simples da vida: nós não sabemos tudo. Nunca vamos saber! Quem não tem a humildade de reconhecer que desconhece tem desprezo por toda chance de aprender. Em geral, exibe excesso de empáfia, arrogância, mania de superioridade, ódio, incompreensão, intolerância e essas coisas que tornam o mundo pior todos os dias”, diz André.

A geração Millennial, com suas legiões de críticos-miojo, “toma conclusões impensadas e acomoda-se em juízos superficiais por preguiça de pensar”.

- O mínimo que se espera de uma pessoa provida de inteligência – afirma André - é que ela saiba realmente do que não está gostando. Que se aprofunde como puder a respeito do que rejeita e o faça com propriedade. Que não se contente em boiar à deriva, superficial, enquanto grita “vejam, vejam como eu sou idiota, vejam como eu sei fazer birra, vejam como eu insisto em não mexer nas minhas certezas e verdades prontas, vejam, eu sou uma besta completa e tenho orgulho disso!

Não conheço o Sr. Gomes pessoalmente, mas concordo com sua premissa: “Não diga “não li e não gostei”. É feio. Se quiser mesmo fazê-lo, a vida é sua, o problema é seu. Mas não saia alardeando isso por aí, não. É patético.”

É isso aí, André. Não lhe vi. Mas já gostei.


24 março 2018

SOBRE MEDICINA, EVIDÊNCIAS E METADES

Em 1998, no raiar da Internet, fiz minha primeira compra pela Amazon: um livro chamado Evidence Based Medicine, de David Sacket. Na época, tinha uma ideia maluca de trabalhar desenvolvendo conteúdo médico para web e tanto fucei que consegui um trampo na www.bibliomed.com.br - mas isso é uma outra história. Voltemos ao Sacket.

O livro em si é bom, mas a introdução é magnífica! Ao tecer sua apresentação da obra e a importância da recém-nascida Medicina Baseada em Evidência, Sacket contava a história de como funcionava o curso de medicina na Harvard Medical School.

A cada ano, o reitor da faculdade fazia questão de dar a primeira aula aos calouros. Todos reunidos no clássico auditório, o Reitor iniciava sua palestra dizendo:

- "Vocês estão prestes a entrar no que provavelmente é o melhor curso de medicina que o Ocidente já foi capaz de produzir!" - pronunciava com grande pompa e circunstância. - "Nossa escola médica tem 7 prêmios Nobel em seu currículo (hoje em dia: 9) e todos os nossos professores têm acesso à vanguarda da tecnologia e do conhecimento científico. Por isso, me sinto na obrigação de lhes dizer duas coisas muito graves. Muito, muito graves de fato."

- "Primeiro" - prosseguia -, "saibam que 50% do que vocês irão aprender será provado ser UMA MENTIRA DESLAVADA. Dentro de 10 anos, simplesmente METADE do conhecimento transmitido durante seu curso será considerado inválido, incorreto ou absurdo pelo avanço das evidências."

- "Infelizmente, para minha tristeza, nem eu, tampouco seus professores, sabem qual METADE."

Ainda hoje, me espanta ver como colegas médicos - antigos e recentes - lêem e estudam pouco, e refletem menos ainda, e insistem em defender com unhas e dentes as duas "Metades de Harvard" - tanto aquela validada pela tradição quanto aquela desmontada pelo progresso das evidências.

A Medicina deixou de ser uma arte - virou uma manufatura cega. E nós, médicos, deixamos de ser filósofos da saúde humana e nos tornamos operários a serviço de gestores apaixonados por números. Em toda parte, a maluquice impera. E sua filha mais querida - o vitimismo - vai ganhando mais espaço a cada dia.

Entre tantas METADES possíveis, ficamos com aquela que não prestava - e sequer percebemos isso ainda.

SOBRE UM ESTRANHO CHAMADO SEU CORPO

A Mácula Densa (uma CPU microscópica agrupada às centenas de milhares de unidades em cada um dos rins) faz parte de um complexo mecanismo de feedback que regula os níveis de sódio e a pressão sanguínea.

O time de Máculas monitora a densidade de sua urina em nível molecular enquanto troca mensagens hormonais com o cérebro, especialmente com uma região chamada Hipotálamo. É desse papo que surge a "vontade" - leia-se: conscientização das informações dos seus sistemas autônomos - de ingerir líquidos.

Quando a mácula densa percebe que a concentração de sódio está subindo, ela envia um whats para o hipotálamo, que verifica os documentos apresentados. Se a queixa bioquímica passar pela auditoria hipotalâmica, ela é enviada ao Córtex cerebral (onde está sua consciência) e você percebe: "estou com sede!" - e vai beber algo.

Todo esse incrível eixo de análises e comunicações é resultado de milhões de anos de evolução. Seu ORGANISMO HUMANO é esse resultado. Para que ele funcione suave dentro de sua vida, tudo que você tem que fazer de vez em quando é parar um pouco e prestar atenção à conversa de suas células. As respostas estão todas lá!

Tome líquido quando estiver com sede. Durma quando estiver com sono. Coma (apenas o suficiente) quando estiver com fome. E alimente seu cérebro com boas ideias e seu corpo com boas atividades. Não deve ser tão difícil assim.

23 março 2018

UM DIA NO FUTURO DE PINDORAMA

É tudo uma grande piada. O país inteiro é.

O Supremo Tribunal de Justiça de uma nação reúne-se solenemente para julgar se um cidadão condenado em duas instâncias – duas instâncias!pode ser preso...

"SE PODE ser preso", saliente-se bem isso. Independente do resultado dessa surrealidade, só tomando chá de cogumelo mesmo para engolir o comprimido.

Para ter uma ideia melhor de como funciona a magistratura em Pindorama, suponha que um belo dia resolvemos autorizar a pena de morte como forma de punição e, para evitar o risco de executar um inocente, a justiça decide inaugurar a modalidade condenando um reconhecido serial killer à pena.

Vinte e cinco anos depois da sentença, o recurso finalmente chega ao STF onde os "ministros", com garbo e deselegância, se reúnem para debater quantas vezes o serial killer (que aguarda com toda paciência do mundo viajando por aí em liberdade) deve ser morto para que a natureza da pena obedeça sua natureza retributiva.

Tal é o espetáculo que temos para hoje.

#SurrealidadesDePindorama
#MaisDoMesmo
#BrasileiroNãoAprende
#NemDesiste

22 março 2018

SOBRE A RESPONSABILIDADE DAS SEMENTES

Na última década ocorreu uma explosão no acesso à internet nos domicílios brasileiros: entre 2005 e 2015, o número de casas conectadas saltou de 7,2 milhões para 39,3 milhões, um aumento de cerca de  446% no período, segundo dados do IBGE

Apesar do grande número de brasileiros conectados, se for considerado o total de usuários em relação à população, o desempenho do Brasil é inferior: de acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT), o país tem 59% de usuários conectados, percentual inferior ao do Reino Unido (94%), Japão (92%), Alemanha (90%), Estados Unidos (76%) e Rússia (76%). O México possui o mesmo índice do Brasil. China e Índia, países com mais de 1 bilhão de habitantes, ficam atrás juntamente com a Nigéria.

Tudo bem: não adianta muito ter 59% da população conectada quando 92% dos brasileiros entre 15 e 64 anos não possuem um nível Proficiente no emprego de nossa língua e 22% das pessoas que chegaram ou concluíram o nível superior de educação situam-se no nível pleno de Analfabetismo.

Contudo, muito mais que trágico, isso imprime todo um senso de responsabilidade para os 8% restantes que apresentam Proficiência no idioma.

Parafraseando Tocqueville, depende destes 8% despertar nos demais “o interesse pelo destino de seu país e instinto vago da pátria que nunca abandona o coração do homem, ligando-os aos pensamentos, às paixões e aos hábitos de cada dia,  e transformando isto em um sentimento refletido e duradouro. E não venham dizer que é tarde demais para tentá-lo: as nações não envelhecem da mesma maneira que os homens. Cada geração que nasce em seu seio é como um outro povo que vem se oferecer a mão do legislador.

Great oaks from little acorns grow ;)



21 março 2018

PENSAR NÃO DÓI. PERCEBER A REALIDADE, CONTUDO...

A Índia é um país com 3,2 milhões de km2 de área (o 7º maior do mundo), 1,3 bilhão de habitantes e PIB anual na casa dos 2 trilhões de dólares. Isso resulta em um PIB nominal per capta de aproximadamente 1.700  dólares, colocando a Índia na posição 140 de uma lista com 185 países.

Com esta configuração "apertada" a oferta de talentos da Índia inclui:

- 522 universidades públicas, 277 universidades particulares e 39.071 faculdades.

- 27,3 milhões de universitários em curso.

- 2,5 milhões de recém-formados em nível superior a cada ano.

Para efeito de comparação, o Brasil tem uma área de 8,5 milhões de km2 (o 5º maior do mundo), 207 milhões de habitantes, e PIB anual na casa dos 1,7 trilhões de dólares. O PIB nominal per capta no Brasil bate em aproximadamente 13.670  dólares, o que nos coloca na posição 50 em uma lista com 185 países. Com um PIB per capta OITO vezes maior que o da índia, a oferta de talentos do Brasil inclui:

- Cerca de 2.600 instituições de ensino de nível superior (sendo cerca de 2.000 delas particulares). Anote aí que a rede federal possui mais de 140.000 vagas ociosas a cada ano.

- 8 milhões de universitários em curso (3,4 vezes menos que a Índia)

- 990 mil de formandos a cada ano (2,5 menos que a Índia)

E você achando que prender 9 dedos e dar o comando do veleiro para o capitão será suficiente para renovar o aroma de ignorâncias autovitimistas e a epidemia congênita de ineficiência de Pindorama...

Certo.

20 março 2018

34 ANOS: VOCÊ VIU MUDAR ALGUMA COISA?


Machado de Assis dizia que "a cada 15 anos, o Brasil tem o hábito de esquecer os 15 anos passados".

Olhe de novo a foto que acompanha este post. Essas imagens reúnem 34 anos de história brasileira. Trinta e quatro anos. Você já era nascido? Já tinha perdido os dentes de leite?

É provável que não: segundo dados oficiais, o usuário médio de internet no Brasil tem por volta de 28 anos de idade. Mas, de repente, empregando a margem de erro do Ibope de 1.000 anos para mais ou para menos, a gente consiga lhe incluir no clube.

Pois esteja você dentro do clube ou não, fique sabendo que lá vamos nós de novo, quase prontos para outra rodada de “Roletrando encontra Dungeons & Dragons”, agora em versão IMAX direto das entranhas de um gigante adormecido na América Latina.

Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), um dos maiores filósofos brasileiros de quem você provavelmente nunca ouviu falar, certa vez escreveu que: “Estamos outra vez em face da sofística, e precisamos denunciá-la. Mais uma vez temos que sair à rua, como outrora o fez Sócrates, para denunciar os falsos sábios. O niilismo agoniza, sem dúvida, mas é demorada essa agonia, e ele deixa atrás de si, e à sua volta, os destroços de sua destruição. Devemos lutar pela madrugada que há de vir. E, para tanto, é mister enfrentar os sofistas crepusculares de nossa época, não recear as trevas, e nelas penetrar. Há uma nova esperança, e esta certamente não nos trairá”.

Mário era um gênio, mas um daqueles gênios ingênuos. A literatura está repleta deles. Os ingênuos, olhinhos brilhando e respeitosos como um coroinha. Fazem sucesso, são afáveis, populares, transmitem com suavidade aquela fé com pegada, vendem palestras com cobertura de caos, porém com aquele recheio doce de possibilidades meigas que (hummmmm...) todo mundo adora!

Bem, não sou um gênio ou confeiteiro. Não tenho fé em coisa alguma. E tampouco vendo palestras. Mas recomendo que você pense bem sobre seu bendito voto logo em breve: depois de quase meio século vivendo uma espécie de Dia da Marmota, ando meio cansado das mesmas fantasias de carnaval. Que tal pelo menos ajudar a mudar o enredo do desfile?

PENSE SOBRE SEU VOTO.

18 março 2018

O NAZISMO ERA DE ESQUERDA OU DE DIREITA?

Um facebookeano me pergunta: “na sua opinião, o Nazismo era de esquerda ou de direita?”.

Sinceramente, não acredito que classificar o Nazismo como esquerda ou direita vá fazer alguma diferença para as milhões de pessoas que sofreram sob essa ideologia grotesca, mas vamos lá:

O COMUNISMO é uma doutrina social segundo a qual se pode e deve "restabelecer" o que se chama "estado natural", em que todos teriam o mesmo direito a tudo, mediante a abolição da propriedade privada.

O SOCIALISMO refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização econômica que advogam a administração e propriedade pública ou coletiva dos meios de produção e distribuição de bens, propondo-se a construir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método isonômico de compensação. Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da esquerda política, relacionadas com as atuações do Estado de bem-estar social.

Em resumo: COMUNISMO E SOCIALISMO são basicamente a mesma coisa, apenas com nomes diferentes. Ambos defendem um Estado gigantesco (para ser capaz de restabelecer o que chamam de “nosso estado natural”), paternalista (construção da sociedade através de “métodos isonômicos de compensação”), ideologicamente inimigo da propriedade privada e controlador da liberdade, das oportunidades, dos meios de produção e da distribuição de bens. Por convenção, consideramos ideologias Socialistas e Comunistas como sendo de ESQUERDA, certo?

Então o que seria Direita? Simples: o diametralmente oposto à esquerda. Portanto, uma ideologia de DIREITA é aquela em que temos:
  1. Um Estado que aceita o fato de que nem todos terão o mesmo “direito” a tudo. Você não tem direito a ser rico ou feliz, ou ter um diploma universitário, um emprego ou um corpo sarado. É SEU dever esforçar-se por meio da sua vontade e do seu empenho disciplinado para atingir os objetivos que aspira. Satisfazer seus desejos e ambições não é – tampouco foi um dia - um dever do Estado. 
  2. Um Estado que protege a propriedade privada. 
  3. Um Estado que NÃO SE METE com a administração dos meios de produção e distribuição de bens. Não cabe ao Estado fabricar automóveis ou geladeiras ou microondas ou vender máquinas de lavar roupa ou celulares, do mesmo modo que não cabe ao Estado ser dono de rodovias, ferrovias, refinarias, portos ou aeroportos. 
  4. Um Estado que não interfere na liberdade de mercado utilizando subterfúgios escusos e objetivos pífios escondidos sob a égide bacana de “método isonômico de compensação”.
  5. - Um Estado que preserva a liberdade de ideias e expressão.

Dito isto, vale observar que o Nazismo caracterizava-se por:

  • Trazer o conceito de socialista na própria raiz de seu nome: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores da Alemanha).
  • Negar o Marxismo e o Comunismo, oferecendo em seu lugar um Consequencialismo Nacionalista-Socialista com grande ênfase na busca do “bem comum” como ferramenta de subordinação da nação. Aparentemente, uma incongruência entre a teoria (anti-marxista) e a prática (comunista).
  • Uma forte fundamentação nas ideias Nacionalistas do sociólogo alemão Johann Plenge, que defendia uma “guerra” contra os ideais da Revolução Francesa (as “ideias de 1789”, segundo ele), que incluíam direitos humanos, democracia, individualismo e liberalismo, e um avanço para as “ideias de 1914”, que incluíam “valores alemães” como dever, disciplina, lei e ordem. Plenge tencionava criar uma sociedade socialista contrapondo a Alemanha “proletária” à Grã-Bretanha “capitalista”. 
  • Monopolização Política: em 1933, quando foi eleito Chanceler, Hitler estabeleceu na Alemanha um regime político unipartidário, marginalizando os judeus e outros oponentes políticos, prendendo e exterminando milhões.
  • Concentração absoluta de poder: com a morte do presidente Hindenburg, Hitler concentrou todo poder em si por meio de um plebiscito, tornando-se o Fuhrer do país. Em termos funcionais: um ditador, mais ou menos como Nicolás Maduro.

O que você acha agora? O Nazismo se parece mais com um regime de esquerda ou de direita?

17 março 2018

O MITO DA "NEUROQUÍMICA CEREBRAL" E O USO EM MASSA DE ANTIDEPRESSIVOS

O impacto da propaganda indiscriminada de que a Serotonina está de alguma maneira envolvida na “depressão” não pode, de modo algum, ser subestimado.

Muitos pacientes procuram auxílio por acreditarem que sua “neuroquímica cerebral” está desregulada e precisam “aumentar seus níveis de serotonina”. As ações de marketing das companhias farmacêuticas são bastante eficientes em seduzir a opinião pública sobre esse “desequilíbrio”, levando os pacientes a solicitarem ostensivamente a prescrição de medicamentos e plantando dúvidas em suas cabeças sobre o profissionalismo de médicos que sugerem outros tratamentos – como mudanças de hábitos, por exemplo.

Em 1998, no raiar das propagandas dos inibidores seletivos de receptação de serotonina (IRRS) – classe à qual pertencem medicamentos como fluoxetina, citalopram, escitalopram, sertralina e paroxetina -, o neurocientista Elliot Valenstein foi taxativo ao afirmar que “o que médicos e leigos estão lendo sobre doença mental nem de perto corresponde às evidências disponíveis até aqui”.

Duas décadas de tratamentos com IRRS apenas confirmaram a veracidade das palavras de Valenstein: a incongruência entre o que existe na literatura científica e as argumentações dos fabricantes de antidepressivos é um dos mais escandalosos casos de engodo já testemunhados dentro da medicina.


DE UMA BOA CONVERSA NO FACE

Um facebookeano me escreve: “E se uma pessoa está levando com uma vida com harmonia familiar, profissional e social e a neuroquímica cerebral se desequilibra, as produções de serotonina e oxitocina apresentam problemas e essa pessoa fica, de uma hora para outra, estagnada, triste e chega a pensar em suicídio? Tenho exemplos de casos assim, indo de faxineiro a empresário com 5000 funcionários”.*

Vamos lá: ideações de autoextermínio são como surtos psicóticos-esquizofrênicos ou crises de delirium tremens e devem ser tratadas de acordo. Todavia, isso não elimina o papel placebo questionável dos antidepressivos mais populares, tampouco valida a teoria da "neuroquímica cerebral". Até aqui, o conceito de "neuroquímica cerebral" baseia-se em um mito, não em evidências.

Antes de pensar em "neuroquímica", que tal pensar em Tireoide, Diabetes, Obesidade, Sedentarismo, Anemia e déficit de Testosterona?

Na sequência, descartados estes e resolvida a ideia tola de suicídio, recomendaria para o faxineiro e o empresário que começassem a ler. Ler muito. Ler todo dia. Ler no banheiro, no ônibus, na praia, na sala, ler o tempo todo.

Diria para eles que, se alimentarem seus cérebros com ideias ruins, ele produzirá ações ruins. Alimente seu cérebro com fraquezas, condescendências e vitimização e o resultado será exatamente o mesmo.

Diria também para cada um: abandone a TV, selecione suas conversas, filtre suas companhias, reveja seus relacionamentos, sofistique incansavelmente seu raciocínio, sua Lógica e seus Propósitos. E então leia mais.

Ou aposte na desculpa de que está passando por um período de depressão e afogue-se em autopiedade. Entre uma e outra escolha reside a diferença entre ser uma criança e um Homem.

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*(comentário editado)

VOCÊ TEM CORAGEM SUFICIENTE PARA SABER A VERDADE SOBRE OS MEDICAMENTOS CONTRA DEPRESSÃO?

Acredita-se que os antidepressivos atuem corrigindo desequilíbrios químicos no cérebro, especialmente a deficiência de serotonina. Na verdade, seu suposto efeito baseia-se na presunção da veracidade desta teoria “neuroquímica”.

Entretanto, análises de dados publicados e não-publicados (ocultados pelas companhias farmacêuticas) revela que a maioria (se não todos) os benefícios decorrem de um efeito placebo. Alguns antidepressivos aumentam os níveis de serotonina, outros os diminuem, e alguns não têm qualquer efeito sobre a serotonina. Ainda assim, todos mostram o “mesmo benefício terapêutico”. Até mesmo as menores diferenças estatísticas entre antidepressivos e placebos podem ser uma intensificação do efeito placebo.

A teoria da serotonina está bem próxima de qualquer outra teoria na história da ciência que tenha se mostrado um equívoco sem tamanho. Ao invés de curar a depressão, os antidepressivos mais populares podem induzir a uma vulnerabilidade biológica, tornando seus usuários mais propensos à depressão no futuro – além de os colocarem à mercê de sintomas de abstinência quando da suspensão da droga.


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Fonte: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4172306/

SOBRE A CULTURA DA AUTOPIEDADE DEPRIMIDA

O diagnóstico de "depressão" virou uma desculpa viável para toda e qualquer fraqueza de Caráter - assim como a Ansiedade virou desculpa para toda incapacidade infantil em lidar com as centenas de milhares de frustrações da vida.

Ninguém mais quer contrair a responsabilidade pelas consequências de suas escolhas: nesse mundo pós-moderno de filosofias paternalistas, todos buscam um diagnóstico qualquer que lhes alivie do fardo de terem que pagar sozinhos a conta de seus destinos. São como crianças brincando de adultos.

Sim, a maturidade é dura. O Mundo é duro e cruel. A morte é certa; as satisfações, fugazes; as cicatrizes, garantidas; e as perdas, inegociáveis.

Autoconhecimento, Resiliência, Disciplina e Consistência com seus objetivos exigem um bocado – não são faculdades naturalmente inatas. São músculos que temos a obrigação de desenvolver. E malhar dói. Cansa. Acontece o mesmo com o processo de crescimento. E ninguém irá fazer sua série por você – nem mesmo se levar um laudo do psicólogo dizendo que tem o direito de ganhar músculos ou cérebro sem se esforçar penosamente nessa caminhada.

Quando falamos de desenvolvimento pessoal, ninguém tem direito a coisa alguma. Mas temos oportunidades – especialmente a oportunidade de assumir que sua Mente, seus desejos e suas ações devem lhe servir, não lhe dominar.

NÃO APRENDA A PERDOAR A SI MESMO

Nosso medo de parecermos severos e censuradores é acompanhado do desejo de parecermos compreensivos. Compreender tudo é perdoar tudo. Consequentemente, se perdoamos tudo, compreendemos tudo – e nos colocamos na posição de uma deidade misericordiosa.

Se todos devem ser perdoados, não há mérito em julgar. Se ninguém será julgado, então ninguém deve julgar – nem a si mesmo. Isso implica efetivamente em uma carta branca para fazer o que se quer: bastaria a compreensão de outrens e estaríamos instantaneamente absolvidos de nossos erros.

Por isso não é incomum hoje em dia ouvir dizer “estou aprendendo a me perdoar” (geralmente com a orientação de um terapeuta ou coaching), como se esse aprendizado fosse um trabalho duro e de grande valor para a humanidade, equivalente a descobrir a cura para o câncer ou construir uma máquina de teletransporte.

De acordo com os modos mais tradicionais de pensamento, aprender a se perdoar é aprender a agir sem escrúpulos, seguindo no próprio rumo sem se importar com as outras pessoas – basicamente, aprender a perdoar-se é um excelente caminho para transformar-se em um genuíno psicopata.

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Adaptado de Evasivas Admiráveis, de Theodore Dalrymple

SOBRE A DESCULPA DA DEPRESSÃO

Se alguém admite ser infeliz, pode ter sido sua má conduta, tola ou imoral, que contribuiu para isso. Mas se ele se diz “deprimido”, torna-se então vítima de uma doença que, metafisicamente falando, caiu do céu sobre sua cabeça. Isso faz com que a pessoa deixe de ser um sujeito competente e capaz de agir e se torne um objeto frágil à deriva sob as “forças do mundo”.

Então essa pessoa, esmagada pelas circunstâncias e pelas suas escolhas ruins, dotada de pouca habilidade ou perspectivas econômicas - e igualmente poucos interesses intelectuais -, passa a encontrar nas crises acarretadas por sua “patologia psicológica” um sentido para o desalento de sua existência. Durante uma consulta, seu médico, tão desesperado quanto ela, prescreve comprimidos por falta de opções.

Sorte de ambos: os rumores de que a infelicidade é um estado patológico – e não uma consequência da falta de Racionalidade, Caráter, Honra ou Coragem – sempre ofereceu um abrigo aconchegante, até mesmo nas situações mais precárias.

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Adaptado de Evasivas Admiráveis, de Theodore Dalrymple

11 março 2018

BANCANDO O CICERONE LITERÁRIO

Em conversa com um bom amigo que está retomando o hábito da leitura, fui "solicitado" (na verdade, me intrometi a aconselhá-lo) a fornecer um roteiro de leitura.

Para quem quer começar a pensar para além da Matrix cotidiana, aqui vai uma sugestão de caminho:

1) Para iniciar, O Imbecil Coletivo e Tudo que você precisa para não ser um idiota, de Olavo de Carvalho. Não é 100% aproveitável, mas é uma boa sacudida e certamente é um tapa merecido na mesmice.

2) Na sequência, Yuval Harari: Sapiens, Uma Breve História da Humanidade.

3) Emende com Eu, Primata, de Frans de Waal.

4) E então A Arte de Pensar Claramente, de Rolf Dobelli, e A Revolta de Atlas, de Ayn Rand.

5) Para fechar o ciclo, a cereja do bolo: Ética a Nicômaco, de Aristóteles.

Eu sei que provavelmente você indicaria alguma outra sequência - e adoraria saber qual. Manda sua lista aí 😉😊📚

UMA REFLEXÃO COMPLEMENTANDO O CAIXETA

Recentemente, através da fanpage Semiologia Médica, recebi uma reflexão até sensata creditada ao psiquiatra Marcelo Caixeta.

É o seguinte:

Como seria bacana se todos assumíssemos a Verdade! Teríamos um país mais eficiente, justo e próspero. Mas optamos por viver confortavelmente nessa fantasia agradável da mentira, fingindo que o óbvio não existe.

Quer um exemplo do mundo real? Vamos lá: na minha área profissional, a OS que gerencia o PSF estabeleceu contratualmemte uma meta de atendimento junto aos gestores municipais: 720 consultas / médico, dentro se uma carga horária de 160 horas mensais.

Se nós, médicos, passássemos todo o tempo consultando, teríamos exatamente 15 minutos para dedicar a cada paciente - entre receber na porta, dar bom dia, estabelecer um vínculo de confiança, ouvir queixas, conferir exames, solicitar exames e avaliações para especialistas (ah, se não pedir exame de sangue, fezes e urina e não encaminhar para Ortopedia, Cardiologia, Reumatologia, Ginecologia e Oftalmologia, você é um Ogro), revisar medicamentos, refazer a receita e explicar item por item (a maioria é de analfabetos funcionais e um número impressionantemente elevado é dependente de antidepressivos e benzodiazepínicos), fazer relatório para atividade física ou "para ver se encosta no INSS", anotar tudo (queixas, exame clínico, resultados de exames complementares, comorbidades, hipóteses diagnósticas e plano terapêutico) legivelmente no prontuário, cadastrar atendimento no e-SUS, perguntar se tem dúvidas, despedir e levar até a porta. Quinze minutos para esta rotina. Sem levar em conta as visitas domiciliares...

Ao final da maratona desse teatro, somos "convidados" para reuniões com os gestores, que querem que você responda a alguns questionamentos da ouvidoria: por que você demora no atendimento? Por que você atende rápido demais? Por que encaminhou a paciente que utiliza 4 medicamentos controlados para passar com o Psiquiatra? Ela se sentiu ofendida. E por que disse que as dores articulares daquela senhora com 1.58m de altura e 98 kg eram decorrentes de obesidade? Ela TAMBÉM se sentiu ofendida. E outra coisa: você não está atingindo a meta de atendimentos mensais...

Quer saber? Esse país não está indo para o buraco. Ele É o PRÓPRIO buraco.

10 março 2018

FEMINISMO, HONRA E CONQUISTAS

Não se vê um homem, ao ganhar um prêmio, dizer que tem orgulho de ser um Homem ou atribuir, com frequência, o alcance de uma meta a uma expressão superadora de sua masculinidade. Entretanto, regularmente, vemos mulheres celebrando seus títulos dizendo "estou orgulhosa por ser MULHER!".

Como você pode dizer-se orgulhoso por ser algo que foi-lhe simplesmente dado, não conquistado a duras penas?

As lutas pelo sufrágio e pela educação universal, pelo fim da escravidão e pelo término da Segunda Guerra Mundial não foram suas ou minhas, mas de outras gerações. Não há dignidade alguma em usurpar-lhes a vitória e dizer "tenho orgulho de ser um homem brasileiro por termos combatido na Europa". Se você tem menos de 80 anos, você não lutou essa guerra. Reconheça humildemente que os louros desses combates não lhe pertencem. Não pegue-os para si.

Quando VOCÊ vencer algo, orgulhe-se de seu esforço, de sua garra, de sua disciplina, de sua consistência, e da ajuda de TODOS aqueles que participaram de seu progresso rumo ao objetivo - porque NINGUÉM VENCE SOZINHO.

Mas orgulhar-se de sua nacionalidade, cor da pele, sexo, verrugas, preferências na cama ou dedos do pé - especialmente em nome de batalhas travadas POR OUTROS, há muito tempo - é como um sapo, enquanto dá seus pulos anfíbicos, orgulhar-se de ser um sapo descendente direto de peixes ósseos.

Não quero saber se você tem orgulho de ser um sapo. Ou uma sapa. Ou um descendente de eucariotas. Quero saber de sua história - e da Honra que lhe pertence unicamente e encontra-se de maneira genuína embutida nela.

09 março 2018

A MERITOCRACIA E O PEDIGREE BRASILEIRO

Durante o período de colonização dos EUA, a comunidade foi organizada antes do condado, o condado antes do Estado, e o Estado antes da União. No Brasil, tão cedo quanto em 1504, já éramos submetidos a um sistema de Capitanias Hereditárias – uma ordenação colonizadora completamente invertida à dos EUA.

Segundo Alexis-Charles-Henri Clérel, visconde de Tocqueville, diplomata, historiador e cientista político francês do século XIX, “os povos sempre se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira”.

Para Tocqueville, “se nos fosse possível remontar até os elementos das sociedades e examinar os primeiros monumentos de sua história, descobriríamos ai a causa primeira dos preconceitos, dos hábitos, das paixões dominantes, enfim de tudo o que compõe o que se chama caráter nacional. 

Poderíamos encontrar a explicação de usos que, hoje em dia, parecem contrários aos costumes reinantes; de leis que parecem em oposição aos princípios reconhecidos; de opiniões incoerentes que aparecem aqui e ali na sociedade, como esses fragmentos de correntes rompidas que às vezes ainda vemos pender nas abobadas de um velho edifício e que não sustentam mais nada.

Assim, por meio da análise de suas origens, poderíamos explicar o destino de certos povos, "que uma força desconhecida parece arrastar para um fim que eles mesmos ignoram”, finaliza o visconde.

Tocqueville escreveu essas palavras em 1835, no maravilhoso A Democracia na América, mas o modo como elas podem ser aplicadas à nossa própria história brasileira, profetizando a atual proliferação de caracteres fracos e discursos disseminados de vitimização e auto-piedade, me causa arrepio toda vez que as leio.


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“A inferioridade de nossa natureza, incapaz de apreender com firmeza o verdadeiro e o justo, frequentemente reduz-se a optar apenas entre dois excessos”. (Tocqueville, in A Democracia da América).

08 março 2018

O HOMEM DE NEGÓCIOS

Cada produto que melhorou a vida humana resultou de criadores e produtores de idéias: temos abundância de alimentos graças aos métodos mais eficientes de agricultura desenvolvidos pela ciência. Vivemos hoje o dobro de nossos antepassados da era pré-industrial devido aos avanços na tecnologia médica, nas noções de sanitarismo, de imunização e antibioticoterapia – todos frutos de pesquisas e trabalho duro. Se desfrutamos de ar condicionado, transporte aéreo, smartphones, TV a cabo e acesso rápido à informação, isso ocorreu porque inventores tiveram liberdade para fazer as perguntas e conexões necessárias.

Contudo, a maioria das pessoas ignora uma figura essencial nesta escada de progresso: o Homem de Negócios. Os comerciantes, os vendedores, os empresários, foram eles que extraíram as descobertas do anonimato dos laboratórios e do submundo academicista e as colocaram nas prateleiras do Mercado – muitas vezes, financiando previamente as pesquisas necessárias para o seu desenvolvimento.

Por trás das atividades do Homem de Negócios oculta-se um processo racional tão importante quanto aquele dos cientistas e inventores: ele deve descobrir como encontrar e treinar trabalhadores que irão montar um produto de qualidade. Ele deve calcular os custos envolvidos para tornar o produto “vendável”. Ele deve determinar como apresentar seu artigo para alcançar os potenciais consumidores. E ele deve maquinar uma maneira para financiar todo o empreendimento, persuadindo investidores, fornecedores e distribuidores, retroalimentando o circuito de crescimento. Todas estas etapas – e muitas outras – dependem da mente do Homem de Negócios. Se ele não tiver liberdade para pensar, sua iniciativa resultará em prejuízo e seu produto será extinto.

A dedicação, a persuasão e a racionalidade do Homem de Negócios são virtudes das quais nossas vidas - e nossa prosperidade - dependem profundamente. A única maneira de respeitar esta virtude é permitir que o Homem de Negócios tenha liberdade de ação – e é exatamente isto que o Capitalismo faz.

Infelizmente, na maioria dos casos, a regulamentação do Estado atua como um obstáculo para o Homem de Negócios. O Estado raramente contabiliza os resultados no longo prazo: interessa-lhe apenas o que é politicamente vantajoso para o momento. O Estado não joga com o próprio dinheiro: ele negocia com as vidas, as propriedades e os bolsos de terceiros. E mais importante: o Estado não precisa persuadir suas vítimas. Ele simplesmente impõe suas normas – não por meio da Razão, mas da força física.

Um Estado que sacrifica ideias em nome da obediência cega ao seu Realismo Moral, não opera sob um sistema Capitalista: ele é uma doutrina de brutalidades e escravidão – seja ele comunista ou fascista. E qualquer sistema “misto”, como as propostas atuais de “bem estar social”, representa apenas uma maneira mais gradual de liberar as mesmas moléstias regulamentadoras e improdutivas que desflorestam o Livre Mercado - o único habitat propício ao verdadeiro Homem de Negócios.

03 março 2018

SOBRE MERITOCRACIA E ASSISTENCIALISMO

Atualmente, 4.510 famílias de Caraguatatuba são beneficiadas com o programa Bolsa Familia do Governo Federal.

Em média, essas pessoas tem 2 filhos - ou seja, são núcleos familiares compostos por no mínimo 3 indivíduos. Isso totalizaria 13.530 pessoas sob o programa de auxílio em uma cidade com 113.000 habitantes. A grosso modo, 1 de cada 10 caraguatatubenses depende de alguma maneira do repasse fornecido pelo governo - e o número sobe a cada ano.

Trabalhei durante quase 3 anos em uma UBS que tinha um bom Centro Universitário (IGC de 3 pelo MEC!) a menos de 500m de distância do bairro. Rotineiramente, perguntava aos atendidos com faixa etária compativel com o perfil da População Economicamente Ativa se alguma vez haviam atravessado a rua para se informar sobre como cursar uma disciplina ou buscar uma graduação lá. Nunca obtive uma resposta positiva.

O PAT de Caraguatatuba oferece periodicamente uma lista razoável de postos de trabalho disponíveis. A esmagadora maioria dos "desempregados" que atendi jamais relatou ter procurado recolocação junto ao órgão. Alguns, nascidos e criados na cidade, alegavam sequer saber que tal coisa existia.

Andando de bicicleta pelo centro, vários - mas vários comércios mesmo - exibem placas de "precisa-se". Conheço muitos proprietários de lojas e restaurantes e, quando perguntava "qual a sua maior dificuldade em tocar o negócio por aqui?", a maioria respondia: encontrar pessoas "ponta-firme", empenhadas em trabalhar com seriedade e disciplina.

Graças a essa tão festejada "cultura caiçara", a cidade ocupa a 169a posição estadual no ranking de IDH e é o terceiro município mais violento de São Paulo.

As oportunidades existem. Acreditar que o Estado tem a obrigação de cuidar do cidadão que é molenga e desinteressado, que não estuda, não lê, não se capacita e não procura trabalho porque às três horas da tarde de uma quarta feira vai cozinhar mexilhão na Praia Brava e à noite sai para fumar erva na praça de skate, é apenas mais do mesmo paternalismo socialista de sempre.

Infelizmente, a maldição do assistencialismo se infiltrou de tal maneira no espírito do brasileiro que ele se transformou em uma espécie de zumbi infantilizado, que reclama e espera "pelos seus direitos" enquanto tenta escapar de todas as maneiras de qualquer "dever". Mas quem tem coragem de olhar a verdade de perto e colocar honestamente o dedo na ferida? É mais fácil continuar culpando o "sistema" e seu representante oficial - o malvado papai Estado.

UMA VERDADE INCONVENIENTE SOBRE NOSSA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Imagine o seguinte: eu lhe dei 30.000 reais e pedi para você comprar um veículo para mim, dizendo "Traga aqui um carro com esse dinheiro e lhe darei outros 30 mil de prêmio. Mas com uma condição: eu quero um automóvel com 6 air bags, trio elétrico, painel de LCD, suspensão inteligente, hidramático e com direção eletrohidráulica".

Você conseguiria comprar um carro assim por 30 mil?

Talvez você conseguisse um carro, mas certamente ele não atenderia às minhas exigências de qualidade, certo?

Para colocar um cérebro EXCELENTE dentro de sala aula, com contrato de exclusividade, 160h por mês, motivado, animado, orientando e iluminando caminhos e vidas muito mais que apenas passando matéria para 40 alunos, isso sairia por quanto? Uns 40-50 reais a hora?

Lembre-se: assim como quero um carro top, procuro um professor TOP - não um Fiat 147 com juntas gastas e motor sem fôlego. Estamos falando de um professor-ferrari aqui! Então fechamos esse orçamento em 50 mangos a hora, pode ser? Ótimo.

O fato é que cérebros EXCELENTES têm um preço, eles custam dinheiros. Talvez eu até consiga um por 40-50 reais a hora, mas provavelmente não conseguiria pagando 10-11 reais a hora. Ninguém adquire uma Ferrari por 11 reais a hora...

Pois 11 reais por hora de trabalho é o preço médio dos neurônios que aceitamos comprar para colocar nas salas de aula dos municípios brasileiros. Qual a qualidade do raciocínio, o nivel de sagacidade, a noção de meritocracia, objetivismo, empreendedorismo e autonomia que você acredita que esses cérebros têm?

Não se compra uma Ferrari com praças, parques, lousa eletrônica, tablets, refeitorios bonitos ou ginásios poliesportivos.

Quando você aceita comprar um Fiat 147, está adquirindo um automóvel com raízes italianas, sem dúvida, mas é absolutamente insensato esperar que ele ande como uma 335 S Spider. Uma Spider anda muito, é uma Ferrari!, e justamente por isso custa bem caro.

E essa é a realidade de nossos sistema público de educação: pagamos por Fiats 147 usados e  vivemos o delírio de vê-los disparando eficiências e resultados como um bólido do comendador Enzo. Sabe quando esse milagre irá acontecer?

01 março 2018

TEMOS DISCERNIMENTO PARA SUSTENTAR UMA DEMOCRACIA?

Com a proximidade das eleições, esta deveria estar sendo uma das discussões prioritárias por aqui. Um Livre Mercado competitivo com crescimento econômico sólido não necessariamente exige Democracia - e vice-versa. Amarrar uma coisa na outra contamina o debate sobre o mérito de ambas simultaneamente, gerando nada além de desperdício de tempo.

Temos mesmo condições sócio-econômico-culturais para um sufrágio universal como o atual? Argumentar isso virou uma espécie de "blasfêmia", mas, por uma questão de maturidade e análise da série histórica nacional, deveríamos ter coragem para levar o debate ideológico para além do "sagrado dogma democrático".

Talvez um modelo "ideal" para nossa latinidade passe por um misto de Sistema de Westminster Inglês com a Democracia Meritocrática Vertical da China, quem sabe. O fato é que, do modo como estamos indo, persistindo em uma ditadura da mediocridade majoritária, o futuro é inegavelmente sombrio.

Resta saber se haverá algum dia equilíbrio Moral - e lucidez emocional - para uma troca saudável de ideias nesse sentido. Provavelmente, não.