14 dezembro 2017

SOBRE UM NOVO SISTEMA DE ENSINO


Os professores são os responsáveis por difundir modos de pensar a alunos que já tem seus próprios métodos de raciocínio – métodos estes que serão empregados para processar as informações apresentadas.

Muitos dos pontos de vista explicados na frente do quadro negro são edições intelectualmente refinadas de opiniões que os estudantes já possuíam, porém em versões mais rudimentares. Por este motivo, as aulas deveriam levar em conta as competências cognitivas presentes nos alunos, e, idealmente, procurar ampliar e desafiar essas competências, ao invés de simplesmente tentar ocupar espaços vazios ou reorganizar os espaços já existentes colonizando-os com algo que o Estado considere essencial, novo ou melhor.

Qualquer professor que tente apresentar um material que não esteja alinhado às competências cognitivas prévias de seus pupilos estará enxugando gelo. Sua instrução será rejeitada como sendo incompreensível ou radicalmente discordante do bom senso, ou será absorvida de modo distorcido. Uma boa aula expõe informações que desalojam as compreensões anteriores do aluno, obrigando-o a construir novos entendimentos. Afinal, o Saber não é uma flor que se observa, mas uma montanha que se escala.

Quando o Conhecimento é divulgado desta forma, muitos estudantes metabolizam os dados de modo convencional e, por conseguinte, deturpado. Eles não estão confundindo tudo: estão apenas tentando entender em seus próprios termos. Este problema é bem perceptível quando lidamos com parcelas menos educadas da população e tentamos expressar noções de tolerância, honra, coragem, força, disciplina, igualdade, secularismo e meritocracia.

É de se esperar que, enquanto estes conceitos são apresentados em um embrulho questionador, a classe comece a se dividir em grupos com argumentos opostos. O desentendimento mútuo – e não o entendimento compartilhado - é a regra nesses cenários. A mesma dinâmica pode ser observada quando cidadãos discutem política.

Em geral, o grupo que demonstra o maior nível de confusão, desacordo e insatisfação pode ser o mais produtivo educacionalmente. E isto não corre apenas porque a agitação fornece carvão para a fornalha do pensamento reflexivo: na verdade, os insatisfeitos barulhentos ajudam a iniciar ou exacerbar o desequilíbrio cognitivo pré-existente, que de outro modo permaneceria constrangido em seu mutismo conveniente. Esta sacudida leva os estudantes – e os cidadãos – na direção de uma reintegração de crenças alicerçada em ideias com um nível bem maior de discernimento.

Assim como um hospital tende a ser uma instituição de cuidados, uma escola também deveria conceber sua missão desta forma. Não apenas transmitindo conteúdo ou desenvolvendo habilidades tayloristas específicas, mas apoiando, nutrindo, fomentando, complementando e participando ativamente do crescimento intelectual global do estudante.

O fato de muitos professores acreditarem já estar agindo dessa forma – quando não estão nem um pouco - mostra como é essencial e urgente conceber uma nova forma de ensino. Infelizmente, enquanto a Base Nacional Comum Curricular tramita em um universo paralelo, longe da atenção merecida, a nação segue desperdiçando vários minutos por ano com os muitos escândalos do dia. Nesse ritmo, deixaremos de ser o país do futuro e continuaremos a ser, com pompa e circunstância midiáticas, o país sem futuro de sempre.

11 dezembro 2017

PERTO DE MAIS UM GIRO NA RODA DA VIDA

 
Último mês de 2017. Hora de olhar para frente, planejar o próximo ano e tentar enxergar o que aguarda um pouco além da curva. Mas é hora também de olhar para trás e ver o rastro das pegadas deixadas no caminho dos últimos 12 meses. E que 12 meses...!

Conheci cidades, praias, rios, cachoeiras, matas, estradas e lugares espetaculares; andei mais de 2000 km de moto, carimbei o asfalto com minhas costelas, esmaguei um pulmão e fiz um estágio de imersão de alguns dias, como paciente, na realidade do sistema público de saúde de nosso país. Uma experiência que me modificou profundamente, pode acreditar.

De uma ideia surgida em uma conversa de mesa de bar com dois amigos muito queridos (Juliano e João Ricardo), o projeto ManhoodBrasil se desdobrou em um website versátil, informativo, vibrante, contabilizando mais de 1.500 páginas publicadas em um ano (são 309 matérias em 5 categorias de interesse até aqui) e quase 20.000 views/mês.

Hoje, a marca reúne mais de 1.000 seguidores no Instagram, mais de 7.000 no Linkedin e superou o teto de 4.000 no Facebook, alcançando mais de 55.000 pessoas e rendendo feedbacks recompensadores. Simplesmente não tenho como agradecer a cada um de vocês que fizeram – e continuam fazendo - parte dessa transformação.

Entre idas e vindas no consultório, concentrando 100% dos meus atendimentos no SUS, pude compartilhar das queixas e das agruras de cerca de 6.500 pessoas: de cada 3 pacientes tomando remédios psiquiátricos, 2 não precisavam de remédio algum, mas apenas de uma luz para aceitar a responsabilidade embutida em suas próprias escolhas e a chance de mudança que a vida oferece a cada dia. O mesmo valia para os obesos (60% da população atendida), os ansiosos e os deprimidos.

Em muitos casos, não acho que minhas orientações fizeram grande diferença, mas tive o prazer de ver pessoas iluminadas conseguindo se livrar de seus tarjas-preta de estimação, perdendo 8 kg em 2 meses ou até 23 kg ao longo do ano. Assisti relacionamentos renascerem, crises de choros e tempestades de catarse. Testemunhei alguns corajosos se engajando e decidindo finalmente participar ativamente de seu tratamento, virando corredores, atletas, remando caiaques no mar, florescendo novamente. A honra e a alegria de participar de suas vitórias não cabem em palavras.

Para fechar 2017 com um brinde especial, recebi a companhia de uma mulher magnífica, inteligente, esforçada, cujos planos em comum me fazem respirar fundo com um sorriso quando penso em como 2018 poderá ser ainda mais recheado de riscos, descobertas e conquistas gratificantes.

Espero que você tenha maturidade para reconhecer os milagres que lhe acompanharam neste ano – até mesmo nas vicissitudes que ele pode ter trazido. Que você deixe as picuinhas políticas de lado, que tire essas roupas pirracentas de moralidade que teima em ostentar, e faça uma viagem para dentro de si e para fora de sua zona de conforto. De todas as opções possíveis, seguir vivendo é certamente a mais extraordinária delas! Curta cada minuto.

Boas festas :)